Em ato de campanha para a reeleição de ambos, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) e o presidente Jair Bolsonaro, assinaram a privatização do metrô de Belo Horizonte com R$ 428 milhões do dinheiro que a Vale pagará no acordo por Brumadinho.
O estado de Minas Gerais usará quase meio bilhão de reais em dinheiro da reparação por um crime que matou 272 pessoas para pagar a uma empresa privada pela expansão do metrô da capital mineira.
Já o Congresso aprovou um projeto de lei que destina R$ 2,8 bilhões para a desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), a “modernização” da linha 1 e financiamento da linha 2 (Calafate / Barreiro) do metrô. A previsão é a de que o leilão seja realizado no primeiro trimestre do ano que vem.
São mais de R$ 3 bilhões que a empresa privada receberá para assumir o controle do metrô de Belo Horizonte. Além de não gerar retorno financeiro, a privatização será bancada pelo governo federal e pelo governo de MG do partido Novo, comandado pelo bilionário Romeu Zema.
Uma doação generosa, portanto, que inclui o pagamento das dívidas da CBTU.
Em plena campanha, Bolsonaro e Zema trocaram afagos. “Como é bom ter um governador da estatura do Romeu Zema”, elogiou Bolsonaro. Zema se elegeu na onda bolsonarista em 2018 e, ao contrário de outros políticos que seguiram o mesmo caminho, como João Dória em SP e Wilson Witzel no RJ, que viraram adversários do presidente, Zema segue firme em seu apoio incondicional a Jair Bolsonaro.
A privatização do metrô de BH com centenas de milhões da Vale confirmam as previsões, bastante seguras, de que Zema usaria o acordo fechado por Brumadinho em fevereiro para bancar a sua reeleição.
No valor total de R$ 37 bilhões por Brumadinho foram incluídos dezenas de obras em BH e em MG, como o Rodoanel em BH, reforma de estradas e de hospitais, além de bilhões até para a segurança pública. Somente 30% do montante irá para Brumadinho. A Assembleia mineira aprovou em julho um projeto que destina R$ 1,5 bilhão do valor pago pela Vale para ser distribuído entre as 853 cidades do estado.
O uso eleitoral do dinheiro devido pela Vale é amplo e irrestrito. Um acordo em moldes parecidos está sendo discutido pelo rompimento de Mariana, que completa 06 anos em novembro, mediado pelo Conselho Nacional de Justiça com a participação apenas simbólica das pessoas atingidas.
O movimento Tarifa Zero BH, que participou de uma audiência na Câmara da capital para discutir a concessão de todo o sistema de transporte, criticou a privatização do metrô da cidade. “A Superintendência da CBTU diz que não sabe o que vai acontecer com seus funcionários. Sucateiam o metrô, aumentando a tarifa para entregar o serviço para uma empresa privada e, na hora que isso acontece surge dinheiro de todos os lados que poderia subsidiar a tarifa, melhorar o pagamento dos funcionários e ampliar o serviço”, escreveram.
“Privatizar o metrô não garante expansão e a melhora no serviço. Pelo contrário! No lugar de investir em transporte, vamos pagar para que empresas milionárias lucrem ainda mais”, escreveu a deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG) no Twitter.
O evento contou com um episódio bizarro, típico da escória da ditadura que ocupa o poder em Brasília: uma criança de 6 anos vestida com a farda da Polícia Militar de Minas Gerais e com uma arma de brinquedo nas mãos subiu ao palco e foi carregada por Bolsonaro.
O evento aconteceu na toada dos 1000 dias de governo de Jair Bolsonaro, marcado pelo genocídio proposital da população brasileira, que registra 600 mil mortos em números oficiais subestimados, o recorde de desemprego, dezenas de milhões de pessoas encarando a fome e a miséria, inflação em alta, economia destruída e a cooptação total do Estado por interesses comerciais.
Em conversa com empresários, Jair Bolsonaro sinalizou que quer um nome de Minas para a vice-presidência na chapa de reeleição. O investimento total previsto para entregar o metrô para a iniciativa privada, conduzido pelo BNDES, é de R$ 3,7 bilhões e as obras não tem prazo de entrega.