“É mentira que o mercado olha para o meio ambiente”, diz especialista em ESG, nova obsessão de mineradoras

O empresário Fabio Alperowitch, fundador da FAMA Investimentos, se acostumou a ser uma voz dissonante em um mercado pouco afeito a vozes dissonantes.

Em sua newsletter semanal “ESG – Direto ao Ponto”, lida por mais de 13 mil pessoas, nos posts em redes sociais ou nas entrevistas que concede, como esta para o Observatório da Mineração, Alperowitch costuma criticar sem rodeios o tal “ESG” em voga no Brasil.

As três letrinhas que se tornaram a bola da vez do mercado financeiro e das mineradoras representam supostos compromissos ambientais, sociais e de governança que empresas assumem no dia a dia.

Na grande maioria das vezes, porém, o discurso ESG fica restrito à teoria e, mais do que isso, é usado para tentar lavar a imagem de empresas abertamente poluidoras e violadoras de direitos.

Como se dizer “sustentável”, por exemplo, quando se acumula multas ambientais e desastres graves no currículo? Como alegar que “respeita os direitos humanos” quando uma empresa tem histórico de não consultar comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, violando leis e a Constituição?

Como vender a ideia de que “trabalha para a inclusão” quando as mineradoras gozam de inúmeros privilégios, subsídios e incentivos, não pagam imposto de exportação e deixam quase nada para as cidades que convivem com um legado de destruição?

Fabio Alperowitch, considerado pioneiro sobre o tema ESG no Brasil, não mede palavras para explicar a hipocrisia da “estratégia ESG” de muitas empresas, abraçada entusiasticamente pelo setor mineral. “É mentira que o mercado olha para o meio ambiente. É totalmente mentira que o mercado olha para mudanças climáticas”, resume.

Na entrevista a seguir, o investidor detalha, em sua visão, porque as empresas e os investidores assumem metas frágeis, ignoram questões centrais, apostam em soluções duvidosas, postergam decisões cruciais para a vida no planeta, apoiam um político corrupto e ecocida como Jair Bolsonaro e, em suma, estão mais preocupados em proteger o próprio bolso agora do que realmente trabalhar para uma mudança concreta.

É o caso da mineração. O ESG virou “obsessão” do setor mineral. O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), que representa mais de 80% da mineração no Brasil, abraçou de vez o discurso, que não sai de suas notícias, reuniões e eventos, como o Exposibram, que acontece esta semana em Belo Horizonte (MG).

Nesta notícia de terça-feira, por exemplo, o IBRAM diz que “são muitas as corporações que estão adotando o ESG e colhendo os frutos desse tipo de governança”. No painel mencionado, participaram executivos de mineradoras como Mosaic Fertilizantes, Anglo American, Vale, Samarco, AngloGold Ashanti e Largo Resources.

Todas elas são conhecidas dos leitores do Observatório da Mineração e a maioria já foi abordada em diversas matérias que publicamos ao longo dos últimos anos sobre desastres com barragens, mortes, destruição ambiental, violação de direitos, privilégios tributários e fiscais, casos de contaminação, lobby e interesses na Amazônia e fora dela.

Em outra notícia publicada no início do mês, o IBRAM destacou que, de acordo com a avaliação das próprias mineradoras, “o engajamento na agenda ESG do setor aumentou 85%” e as metas vão bem, obrigado.

A Potássio do Brasil, por exemplo, empresa canadense que faz lobby junto a Jair Bolsonaro para liberar uma mega mina de potássio no Amazonas e que está passando por cima de direitos indígenas, como mostramos aqui no Observatório da Mineração, alega “contribuir com a agenda ambiental global e as novas práticas ESG em suas operações”, adotando uma “engenharia sustentável” para a “preservação do meio ambiente”.

Quem se baseia somente nas notícias das próprias empresas ou nas matérias veiculadas pela mídia corporativa que recebe milhões em anúncios de mineradoras pode encarar a realidade com um olhar distorcido, favorável a um setor extremamente problemático – para ser generoso – no Brasil e no mundo.

Insuspeito, Fabio Alperowitch, gestor de um fundo responsável por ativos de R$ 2,6 bilhões, 80% de investidores internacionais e com exigências éticas incomuns para o mercado financeiro, tem muito a dizer. É a palavra de uma fonte relevante que está longe de poder ser considerada “esquerdista” e que tem consciência das limitações não só do ESG, mas do capitalismo em geral.  Leia a entrevista completa.

Observatório da Mineração – Por que que tem tão pouca gente crítica dentro do mercado em relação a assuntos socioambientais e por que o ESG fica muitas vezes no discurso e não vai para a prática?

Alperowitch – Bom, acho que esse é um fenômeno que não acontece só no Brasil, mas acho que ele é mais acentuado no Brasil. Se a gente for pensar os pilares do ESG estamos falando de direitos humanos e meio ambiente, que são temas, no Brasil, entendidos como de esquerda, especialmente pelo mercado financeiro, o que é um absurdo.

Durante três décadas o mercado financeiro foi refratário a esse assunto. Não existia um espaço para tratar de direitos humanos, então ou você era do mercado ou você tratava de direitos humanos, as duas coisas ao mesmo tempo não. Esse debate foi totalmente interditado até 2019, pelo menos, e isso tem várias consequências. Quem pensava diferente não tinha espaço para opinar, era tratado como “esquerdista” e poderia atrapalhar a carreira da pessoa, que se via isolada ou preferia nem entrar no mercado e trabalhar com outra coisa.

Eu nunca tive medo de me posicionar, mas isso também parte de uma situação de privilégio que é o fato de que eu sou dono da minha própria empresa. Acho que a minha necessidade de vocalizar essas questões é justamente porque ninguém fala nada.

Existe uma omissão sobre várias coisas absurdas e eu acabo falando mais alto e falando sozinho, o que chama a atenção.

Observatório da Mineração – Os fatos mostram que boa parte do mercado financeiro apoiou Jair Bolsonaro em 2018 e continuam apoiando depois de 4 anos de um governo que se provou extremamente ecocida, contra os direitos humanos e contra o meio ambiente. Ainda que o mercado não tenha nada para reclamar dos anos de governo do PT. Não pesou nada para o mercado esses 4 anos de uma atuação tão forte contra os pilares do ESG?

Alperowitch – Existe realmente uma cegueira de boa parte do mercado em relação a algumas questões.

É uma característica do mercado financeiro olhar para o seu próprio umbigo. O mercado em geral não tem uma empatia com os outros, com o coletivo. Então se é bom para ele, está tudo bem, desde que os seus próprios privilégios não estejam sendo atacados.

Isso é totalmente conveniente quando vem Lula e talvez ameace um pouco essa hegemonia. No discurso, porque na prática não foi o que aconteceu no governo dele, muito pelo contrário. Até acho que o Lula foi mais liberal do que o Bolsonaro. Mas é o discurso dele, talvez de conflito com as elites e a estrutura de poder. Isso faz o mercado se sentir ameaçado.

Observatório da Mineração – Existe uma confusão deliberada, uma vontade de restringir o ESG ao que convém. Na sua visão, o que o ESG deveria ser na realidade e o que a maioria das empresas no Brasil acaba fazendo?

Alperowitch – O processo decisório das empresas deveria contemplar o interesse dos stakeholders em geral e não só dos acionistas. Toda a cadeia impacta no meio ambiente.

Desconsiderar esses impactos significa que você está desalinhado de uma cultura ESG na realidade. O ESG é lido no mercado como um conjunto de práticas, o que é totalmente reducionista.

É mentira que o mercado olha para o meio ambiente. É totalmente mentira que o mercado olha para mudanças climáticas.

O que existe é apenas o mercado de carbono (nota do editor: questão abraçada pelas mineradoras, diga-se).

É só isso. Não tem uma preocupação com biodiversidade, com água, com economia circular, com uma série de questões que não estão na pauta nem do mercado financeiro nem das empresas.

É também mentira que o mercado aborda a questão social, que o mercado olha para a diversidade. Quando muito é para a equidade de gênero, desconsiderando vários outros fatores como a inclusão de pessoas com deficiência. Indígenas, quilombolas, desigualdade, acidentes de trabalho, questões de assédio e questões psicológicas, tudo isso está fora da agenda do mercado.

Uma empresa cria “metas ESG” e acha que pode dizer que é sustentável.

Observatório da Mineração – Você já disse que o ESG é basicamente um protocolo para o mercado. Pergunto: a partir desses selos e scores que são criados, é possível metrificar o compromisso ESG de uma empresa?

Alperowitch – Eu sou bem crítico a isso por várias questões. A mais básica de todas é que esses scores são estabelecidos através de informações públicas e as empresas não têm a obrigatoriedade de divulgar a maioria dos dados. Elas divulgam o que é bom e escondem o que é ruim.

Não é possível parametrizar. Não tem uma leitura apropriada para cada um dos setores e não é regionalizado. É preciso levar em consideração as questões locais e técnicas. É muito raso a gente falar sobre selos e scores.

Observatório da Mineração – Você sempre destaca que é importante não confundir ESG com impacto, que ESG tem a ver com processos. E isso vale para toda grande mineradora, que dificilmente terá um “impacto positivo” na região em que atua, mas que mesmo assim pode fazer as coisas de maneira mais responsável. Mas até que ponto uma mineradora pode alegar que está implantando processos ESG ao mesmo tempo em que tem interesse de minerar em terras indígenas, em que ela passa por cima de direitos constitucionais e comete violações socioambientais? Esse discurso não fica descasado da prática?

Alperowitch – É como eu digo: quando o mercado vai analisar as práticas da Vale o olhar vai ser sobre a se a diretoria ou o conselho tem diversidade de gênero e quais são os compromissos sobre isso da empresa.

Esse é um olhar totalmente tosco e distorcido que ignora os direitos constitucionais dos indígenas, por exemplo. Como isso não está na pauta do mercado, não há cobrança.

Para a Vale colocar a sua cultura ESG em prática seria preciso se engajar de fato em relação aos indígenas. E ela tem total condições econômicas e práticas para isso. Mas o mercado tem uma leitura superficial, ignora as discussões sobre marcação de terras indígenas e grandes empresas se aproveitam dessa visão reducionista do mercado.

Observatório da Mineração – Falando sobre a questão da neutralidade de carbono e emissões. Eu fiz uma matéria recente que mostra que 98% das emissões da Vale, que são as emissões de Escopo 3, da cadeia de valor, estão fora do objetivo principal da empresa que é ser carbono neutro em 2050.  Isso não é um caso clássico de greenwashing? As empresas não tentam enganar o público o tempo inteiro com esse tipo de metas, com acordos e princípios que elas supostamente são signatárias e outras estratégias?

Alperowtich – É exatamente como você colocou. Existe um mapa muito claro do que é esperado pelas empresas para receberem aplausos e as empresas estão mais preocupadas com o aplauso do que com o problema causado. Um exemplo claríssimo é justamente a visão da Vale sobre o seu compromisso em 2050 que acho que poderia ter sido até mais ambicioso.

Observatório da Mineração – Cito uma aspa de um diretor da Samarco, empresa controlada pela Vale e BHP, responsável pelo rompimento da barragem de Mariana que é considerado o maior desastre ambiental do Brasil. Para Rodrigo Vilela, CEO da Samarco, “o ESG está em todas as pautas nos processos decisórios. A Samarco é um exemplo de desafios e dificuldades e como o ESG passa a ser fundamental na nossa história. Nós estamos reconstruindo a empresa com base em ESG”.
Você acredita que é realmente possível uma empresa responsável por um desastre desse tamanho sair realmente comprometida com processos de ESG?

Alperowitch – São muitas coisas para destrinchar. A primeira é que quando você tem uma empresa que é uma joint-venture como a Samarco você dificulta bastante a tomada de decisões em situação de crise porque é muito conveniente para ambas as partes – Vale e BHP – jogarem responsabilidade para o outro e não decidir.

Se fosse uma empresa só numa situação como Mariana a cobrança toda viria para essa determinada empresa. Nesse caso houve a criação ainda de uma outra entidade, a Fundação Renova. Isso, proposital ou não, é bastante conveniente.

Se houvesse disposição de verdade das partes estaria resolvido. Falta olhar para o coletivo.

Observatório da Mineração – Está em andamento agora uma discussão para chegar a um novo acordo por Mariana para além dos outros que já foram feitos que é basicamente as empresas pagarem um caminhão de dinheiro e dar o caso como encerrado. Como se tudo fosse resolvido por dinheiro. Isso é razoável na sua opinião?

Alperowitch – Existe uma assimetria gigantesca de forças pelo tamanho da Vale e BHP. Isso se reflete inclusive na mídia que faz uma cobertura na minha opinião muito fraca. Não vejo nenhum grande veículo cobrando uma solução e isso cria uma condição, novamente, de muita conveniência.

O porquê disso eu não sei, se é pelas mineradoras serem grandes anunciantes de jornais, mas o fato é que os assuntos não aparecem e ficam poucas pessoas, como este Observatório, cobrindo de verdade e trazendo o debate para onde deve estar.

O Observatório da Mineração não aceita anúncios de mineradoras e de empresa alguma. Por isso, precisa dos leitores para continuar a investigar o que o setor mineral não quer que a sociedade saiba. Faça uma doação recorrente no PayPal ou colabore via PIX com o valor que desejar no email apoie@observatoriodamineracao.com.br

Observatório da Mineração – Sobre os investidores que colocam dinheiro nessas empresas. Do Acordo de Paris para cá os 60 maiores bancos do mundo investiram 4.6 trilhões de dólares em projetos de petróleo, gás e carvão. O relatório Cumplicidade na Destruição que fiz em parceria com a Amazon Watch mostra que instituições financeiras investiram bilhões de dólares em mineradoras que têm interesse em terras indígenas na Amazônia. Os investidores não deveriam realmente assumir a responsabilidade ou, no fim das contas, vale apenas o próprio bolso?

Alperowitch – Você trouxe aí o exemplo da questão indígena e eu acho que isso é um assunto que a gente precisa trazer uma perspectiva do brasileiro em geral. Infelizmente o brasileiro médio não é sensível ao tema. As falas do Bolsonaro sobre indígenas representam uma boa parcela dos brasileiros. Empresas são pessoas tomando decisões e há um critério muito baixo em relação à causa indígena que nasce dessa percepção distorcida da realidade.

Minerar em terras indígena não incomoda ninguém. Nem empresas, nem a mídia e eu acho que as organizações trazem um pouco dessa cultura. Essa noção coletiva não foi despertada como acontece com a preservação da Amazônia, que muita gente entende que é importante não derrubar árvores. Mas para o Cerrado, por exemplo, ninguém olha.

Observatório da Mineração – O que é curioso é que existe uma pesquisa da Folha de São Paulo de 2019 que diz que quase 90% da população é contra mineração em terra indígena, mas ao mesmo tempo existe essa questão histórica de uma visão preconceituosa que foi construída ao longo dos séculos. Ao mesmo tempo, muitas pessoas votam em candidatos que apoiam mineração em terra indígena, um assunto que, de modo geral, não está presente na campanha presidencial. Da parte dos investidores, não deveriam assumir a parte que lhes cabe nisso?

Alperowitch – Acho que sequer existe a percepção de que isso seja um assunto relevante.

Sobre a Amazônia, a gente cobra os bancos porque quem está lá desmatando certamente tá sendo financiado por alguém e os bancos entendem e se fazem de mortos. Eles conhecem as transgressões.

Mas a gente não conseguiu ainda trazer essa questão para o centro do debate. É preciso educação e conscientização em geral na sociedade sobre essas questões, senão não haverá sensibilidade sobre isso.

Observatório da Mineração – Sobre raça e gênero, na mineração há estudos que mostram que as pessoas mais afetadas pelos impactos ambientais são comunidades, cidades e regiões majoritariamente negras. Na avaliação do IBRAM, supostamente a mineração está indo muito bem na questão ESG, mesmo que as “metas” para o consumo de água e de energia e a participação de mulheres seja bastante tímida. Mesmo nas lideranças mulheres estão caminhando para trás, como reconhecem.

Alperowitch – O mercado de modo geral, incluindo o mercado financeiro, não existe a preocupação em tratar dessas questões de gênero e raça. Isso é totalmente ausente da preocupação das empresas.

Observatório da Mineração – Sobre as metas para mitigar as mudanças climáticas, muitas vezes o mercado mira uma meta estabelecida para 2050, por exemplo, sem acompanhar o processo. É querer chegar no resultado sem fazer por onde. Como você vê isso?

Alperowitch – O mercado não está cobrando a jornada. É como se em 2049 o mercado fosse ver o que vai fazer, quando deveria cobrar ano a ano. O mercado prefere confiar na empresa e não faz nada para garantir que as metas sejam cumpridas.

É uma maneira totalmente estúpida de ser, mas é conveniente porque você joga o problema lá para frente. Quem hoje está investindo e analisando prefere não se preocupar porque não sabe se estará daqui a algumas décadas na mesma área ou sequer vivo, a pessoa dá o check favorável para a empresa e pronto.

Observatório da Mineração – Em uma notícia recente, a Coordenadora do Comitê ESG do IBRAM diz que “a Agenda ESG da Mineração do Brasil é um grande trabalho que tem como objetivo melhorar a vida de todos. No preâmbulo da Agenda 2030 (da ONU) tem uma mensagem relacionada a isso, que é a de ‘avançar sem deixar ninguém para trás’.
Você cita em sua newsletter dessa semana um estudo que aponta que ZERO das 169 metas constantes nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) avançaram a contento. Ao contrário, 54% das metas estão em retrocesso; 16% estão estagnadas; 12% ameaçadas e apenas 8% com algum progresso, porém insuficiente.
Não existe uma cortina de fumaça que essas metas geram, não é perigoso esse cenário para a humanidade?

Alperowitch – Sem dúvida, mas quem está preocupado com a humanidade, né? E nada acontece com as empresas que não cumprem o mínimo, sempre haverá alguma justificativa sobre o porquê alguma questão não avançou. Então vai ter blá blá blá blá blá blá.

É preciso uma mudança de cultura para cada um assumir a sua responsabilidade e não ficar olhando para a grama do vizinho, o que ele faz ou deixa de fazer.

No final das contas, para as pessoas brancas e privilegiadas economicamente, não importa que a crise climática piore porque ele tem ar-condicionado, vai mudar de casa, vai pagar mais caro pelos alimentos, vai colocar um muro mais alto, etc, é assim que muitos pensam.

Não estão se sentindo ameaçados e não pensam no coletivo. Então é muito complicado ter tomadores de decisão dessa geração da qual eu pertenço com olhar empático para o outro e que entenda o tamanho da responsabilidade.

Para piorar ainda mais, o benefício da responsabilidade vem no longo prazo, mas o sacrifício é no curto prazo. Então o líder empresarial pensa duas vezes para fazer o sacrifício e ver alguém colher o resultado no futuro.

Tem um monte de problemas éticos aí. Na minha opinião é algo de difícil solução. Eu acho que, meio de forma romanceada, talvez a próxima geração que já está assumindo cargos de comando tenha mais empatia e mais responsabilidade. E as pessoas não querem conviver com empresas ou governos ignorantes. Mesmo mudando de atitude, porém, não sei se teremos tempo até lá.

Observatório da Mineração – É claro que não existem soluções fáceis, simples e rápidas para problemas que são estruturais, complexos e de resolução demorada. Mas você vê saídas? Que caminho você enxerga para mudar isso imediatamente?

Alperowitch – Em teoria, que obviamente não se sustenta, as empresas e pessoas deveriam ser responsáveis, resolver dentro de casa e não precisar de uma regulação.

Mas isso é uma utopia. No momento atual não vejo maneira de isso acontecer. Isto posto, me leva para um outro lado. 

Se não houver um regulatório mais forte, provavelmente não chegaremos lá. Não vejo outra solução.

Em princípio sou contra a necessidade de ter regulação para tudo, mas não vejo muita alternativa no momento que a gente está. Tem questões muito urgentes e as coisas não estão acontecendo.

Pior, acho que tem um paradoxo no ESG, de que não é preciso regular porque o mercado vai para o caminho certo sozinho. O mercado não vai para o caminho certo por conta própria. Vai fazer greenwashing e ficar em questões superficiais. 

A gente tá perdendo tempo. 

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