Ministro Renan Filho e pai de Arthur Lira receberam doações da Braskem nas campanhas ao governo de Alagoas em 2014

Na campanha geral de 2014, a última com doações diretas de empresas permitidas, a Braskem doou no total R$ 8,4 milhões para dezenas de políticos que concorreram a diversos cargos em todo o país.

Entre os contemplados figuram o atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), que recebeu R$ 200 mil da Braskem para concorrer a governador de Alagoas na ocasião, cargo para o qual foi eleito e Benedito de Lira (PP), que recebeu R$ 100 mil da petroquímica também para concorrer a governador e foi derrotado justamente por Renan Filho.

O ex-governador de Alagoas entre 2015 e 2022 é filho de Renan Calheiros (MDB), que é senador por Alagoas desde 1995. Benedito de Lira é pai do atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e foi deputado federal por Alagoas (1995 a 2011), senador pelo estado de 2011 a 2019 e hoje é prefeito da cidade turística de Barra de São Miguel, na região metropolitana de Maceió.

Renan Filho recebeu ainda R$ 120 mil da Braskem via diretório do partido, totalizando R$ 320 mil e Benedito de Lira mais R$ 200 mil pelo diretório do PP, totalizando R$ 300 mil da Braskem em 2014.

Todas as doações são legais e estão registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O atual ministro Renan Filho, que era governador de Alagoas quando a responsabilidade da Braskem sobre o afundamento de bairros inteiros foi apontada, e o prefeito Benedito de Lira foram procurados para comentar as doações recebidas, o relacionamento com a Braskem e as medidas tomadas pelo Ministério dos Transportes.

A assessoria direta de Renan Filho afirmou que “a doação de campanha aconteceu há 10 anos, quando era permitido financiamento empresarial aos partidos” e que outros candidatos ao governo do estado na ocasião também receberam dinheiro da Braskem. Sobre a atuação de Renan quando era governador, a assessoria disse que “desde o início do desastre causado pela Braskem, em 2018, o governador “tomou todas as providências necessárias para dar segurança à população e atuar junto aos órgãos competentes na apuração das causas do acidente”.

Entre as ações listadas, consta a instituição de um Grupo de Trabalho, a participação do governo estadual na ação judicial para suspender a venda da Braskem, a suspenção das licenças ambientais para a extração de sal-gema e a contratação de estudos para “apontar os impactos ambientais, urbanos, econômicos e de mobilidade”. O governo de Alagoas sob a gestão de Renan Filho, afirmou a assessoria, “nunca fez acordo algum com a Braskem”. Leia a resposta na íntegra.

A assessoria de Benedito de Lira não respondeu até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

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As duas famílias são adversárias políticas e travam uma disputa de narrativas sobre as responsabilidades pelo desastre causado pela Braskem em Maceió desde 2018, que se agravou na última semana com o risco de colapso de uma das minas subterrâneas de sal-gema, deixando milhares de moradores em estado de alerta.

Com as 5 mil pessoas removidas às pressas recentemente, a mineração da Braskem na capital de Alagoas já obrigou 60 mil pessoas a saírem de suas casas.

A estratégia de doar para adversários políticos no plano regional e nacional foi adotada pela Braskem em 2014, na linha do que outras empresas fizeram nas eleições gerais daquele ano, caso de Vale e JBS, por exemplo.

Assim, independente de quem saísse vencedor, o nome escolhido pelas urnas teria contado com o apoio da Braskem.

Por Alagoas, o ex-presidente Fernando Collor recebeu R$ 50 mil em doações diretas da Braskem e mais R$ 121 mil da petroquímica via partido, totalizando R$ 171 mil, ajudando na campanha vitoriosa para a reeleição ao Senado daquele ano. Collor é dono da retransmissora da TV Globo em Alagoas, parceria que a emissora tenta romper. A cobertura feita pela TV de Collor tem poupado a Braskem, que é uma das grandes anunciantes do canal.

As maiores doações da petroquímica, porém, foram para os líderes da corrida presidencial na ocasião. Dilma Rousseff (PT), eleita, recebeu R$ 2,2 milhões e Aécio Neves (PSDB) recebeu R$ 2 milhões. Acesse a planilha completa de doações da Braskem em 2014, conforme disponibilizado no site do TSE.

Foto: Cibele Tenório / Agência Brasil

Família Calheiros e aliados de Lira agora cobram responsabilidade da Braskem

O novo episódio do desastre da Braskem está sendo citado oportunamente por ambos os grupos políticos.

Segundo o atual ministro dos Transportes, que lidera a “missão ministerial” formada para lidar com a situação, “a Braskem precisa ser responsabilizada civil e criminalmente pelo crime ambiental cometido em Maceió, garantindo a reparação aos danos materiais e ambientais causados aos maceioenses”.

Em resposta ao Observatório da Mineração, a assessoria do Ministério dos Transportes afirmou que o grupo liderado pelo ministro “se reuniu com autoridades do estado para coletar o máximo de informações sobre a situação e traçar as medidas a serem adotadas com prioridade para garantir a segurança dos moradores da região afetada”.

O senador Renan Calheiros, pai de Renan Filho, que, entre 1993 e 1994, chegou a ser presidente da Salgema (posteriormente incorporada pela Braskem), tem cobrado a instalação de uma CPI para investigar as ações da Braskem.

“Isso não começou ontem. Não foi da noite para o dia. A prefeitura de Maceió, o tempo todo, minimizou os crimes da Braskem. Alegava não haver mais riscos para a sociedade. Mentiu, evidentemente! Fez um acordo com a Braskem e com o Ministério Público, deu quitação plena à empresa, entregou ruas, praças públicas e os terrenos dos bairros afetados para uma posterior utilização no mercado imobiliário. Até hoje, elas (as pessoas afetadas) não viram um centavo do R$ 1,7 bilhão pago pela Braskem à prefeitura de Maceió”, afirmou Renan Calheiros em suas redes sociais.

O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL) é aliado de Arthur Lira. Em entrevista à Globo News, JHC, como é conhecido, disse que “a exploração gananciosa e predadora da Braskem gerou um dano material e social sem tamanho”. Em 2014, JHC recebeu R$ 60 mil da Braskem para a campanha a deputado federal. Entre 2004 e 2014, a petroquímica doou quase R$ 3 milhões às campanhas de 41 políticos alagoanos, como levantou a Agência Tatu.

Arthur Lira, ex-vereador de Maceió e deputado federal por Alagoas desde 2011, tem aproveitado o episódio para cobrar apoio do governo federal. “A grave crise ambiental, humana e estrutural em Maceió precisa de um amparo urgente do governo federal. Solicitei aos órgãos responsáveis a viabilização de recursos e a edição de medida provisória que garantam à prefeitura de Maceió condições de atendimento aos moradores (…) Precisamos estar todos unidos nesse momento e buscar todos os meios para evitar danos maiores”, afirmou o presidente da Câmara.

O desastre em Maceió foi descoberto ainda durante o mandato presidencial de Michel Temer e ficou durante quatro anos sob a gestão federal de Jair Bolsonaro, aliado de Arthur Lira. Não consta que Lira tenha exigido qualquer atuação do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Mineração e de outros órgãos federais durante o governo de Jair Bolsonaro. Bolsonaro chegou a afirmar que “formava heteramente um casal” com Arthur Lira.

Paulo Dantas (MDB), atual governador de Alagoas e aliado de Renan Calheiros, disse que a Braskem é responsável por “um crime ambiental que causou vários prejuízos” e marcou uma reunião com o presidente Lula para tratar sobre o caso da Braskem assim que Lula retornar da viagem à COP 28.

A disputa entre os lados é tão grande que dois gabinetes de crise foram criados semana passada – um pela prefeitura e outro pelo governo de Alagoas – para tratar sobre o risco de colapso da mina 18 da Braskem e as novas consequências – ainda incertas – do desastre que começou em 2018, sem interlocução direta entre as partes.

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