50 maiores mineradoras do mundo atingem US$ 1 trilhão em valor de mercado pela primeira vez

A pandemia de Covid-19, que já matou 1 milhão de pessoas em todo o mundo, não foi obstáculo para que as 50 maiores mineradoras do planeta atingissem uma marca considerável: mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado, somadas.

A Vale é a terceira no ranking, com US$ 54 bilhões, elaborado pelo site Mining.com a partir de várias bases de dados. A maior do mundo é a BHP, com US$ 129 bilhões, sócia da Vale na Samarco, responsável pelo rompimento da barragem de Mariana em 2015.

Em seguida vem a Rio Tinto, com US$ 109 bilhões, uma das principais concorrentes da Vale, disputando tonelada a tonelada o posto de maior produtora e exportadora de minério de ferro do mundo, posição que a Vale retomou recentemente.

O site Mining.com destaca que a marca de US$ 1 trilhão foi ultrapassada com uma recuperação de mercado rápida que supera US$ 330 bilhões em comparação com o auge da pandemia, em abril.

Entre as mineradoras que aparecem no topo do ranking estão a Anglo American e a Glencore, duas gigantes mundiais com vastos negócios e contratos no Brasil.

Outras empresas como a Kinross, a AngloGold Ashanti, a Mosaic e Yamana Gold também possuem diversas operações no Brasil, tendo o mercado local como grande responsável pelo resultado alcançado em todo o mundo.

Em junho, um relatório de 300 organizações mostrou como as maiores mineradoras do mundo aproveitaram a pandemia para ignorar as ameaças e continuar operando, usando para isso todos os meios disponíveis – lobby, pressão por desregulamentação, forçar que a mineração se torne atividade essencial, silenciar protestos e usar doações e medidas locais como marketing positivo.  

O resultado está diretamente demonstrado na marca de US$ 1 trilhão alcançada.

Ações da Vale são “destaque” para investidores

Recentemente, diversos analistas de mercado tem recomendado as ações da Vale e louvado o “esforço para reparar os danos dos desastres ambientais provocados pelas suas operações”.

É o caso do BTG Pactual. “Louvamos a humildade da Vale para aprender com erros anteriores e remodelar a empresa para o futuro”, afirmaram os analistas do banco. A Vale promete “reparar totalmente os danos até 2025”.

Antes do rompimento em Brumadinho, o “lema” adotado pela Vale era o de “Mariana Nunca Mais”, vendendo a imagem de que a mineradora estava fazendo de tudo para garantir a segurança das suas operações e que um novo rompimento jamais voltaria a acontecer.

Em janeiro de 2019 a barragem de Brumadinho se rompeu, matando 272 pessoas, um desastre muito mais letal que o de Mariana em função de, entre outras negligências, a Vale manter o refeitório dos funcionários exatamente no caminho da lama da barragem. É um discurso conhecido, previsível e repetido pela mineradora, que tem o inconveniente de ser desmentida pela realidade.

Destacando o “ótimo momento” do minério de ferro – que deve seguir em alta pelo menos até 2021 – os investidores recomendam fortemente as ações da Vale, que devem se valorizar em até 50%.

Os bancos Bradesco e Inter seguiram no mesmo tom do BTG. “Vemos um esforço contínuo da empresa para recuperar sua imagem junto à sociedade após os acontecimentos de Mariana e, mais recentemente, Brumadinho”, escreveu o banco Inter em seu relatório.

Enquanto isso, a Vale anunciou que vai distribuir R$ 12,4 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio para os acionistas, o que estava suspenso desde o rompimento em Brumadinho. A Justiça Federal negou a intervenção imediata pedida pelo MPF e o bloqueio da remuneração aos acionistas até que a defesa se manifeste.

Os analistas preveem que R$ 12 bilhões é pouco. Com o minério de ferro “bombando”, a Vale pode distribuir mais US$ 5 bilhões até março de 2021. O que representaria mais de R$ 25 bilhões na cotação atual.

O diretor financeiro da Vale, Luciano Siani Pires, confirmou a meta de produção de 310 milhões de toneladas de minério de ferro para 2020. Em 3 anos, a meta da Vale é atingir 400 milhões de toneladas por ano. O que coloca mais pressão em todas as suas operações e, claro, para aqueles que vivem direta e indiretamente impactados pela mineradora.

A Vale também foi procurada por Elon Musk, da Tesla – aquele que admitiu que os Estados Unidos “devem” dar um golpe de estado em quem quiser – para o fornecimento de níquel. Musk também negocia com a BHP.

Ouro, o queridinho do mercado

Mineradoras que exploram ouro respondem por mais de um terço do valor total no top 50 da Mining.com e colecionam os melhores resultados recentes.

Com o preço do ouro disparando e atingindo recordes históricos, essas mineradoras tem comemorado e quem paga parte desse preço é a Amazônia e os povos indígenas, como destaquei nesse vídeo para o canal do You Tube.

Movimentações de mercado dizem muito sobre o passado, o presente e o futuro da mineração, já que nenhum “desastre” acontece por acaso e que metas de produção, novas obras, fusões e aquisições, pedidos de requerimentos minerários e novos acordos estão intimamente ligadas não só a rompimentos de barragens, mas a toda a pressão que os trabalhadores sofrem e os impactos sistêmicos que as regiões com exploração minerária vivem.

Veja a lista completa das 50 maiores mineradoras do mundo (clique para ampliar):

Conheça, assine e acompanhe o canal do You Tube do Observatório, sempre com análises e material investigativo exclusivo sobre o setor mineral: https://www.youtube.com/c/observatoriodamineracao

Compartilhe

Apoie o Observatório

Precisamos do apoio dos nossos leitores para continuar atuando de forma independente na denúncia e fiscalização do neoextrativismo, que ameaça comprometer uma transição energética justa e sustentável no Brasil.

Você pode contribuir de duas maneiras. A primeira, e mais eficaz, é por meio de uma assinatura recorrente no PayPal.

Com ela, você apoia mensalmente o trabalho do Observatório da Mineração, com um valor fixo debitado automaticamente no seu cartão de crédito ou débito.

Também aceitamos contribuições pontuais, no valor que preferir, via PIX. Basta enviar para o e-mail: apoie@observatoriodamineracao.com.br
(conta da Associação Reverbera).

Siga o Observatório nas redes sociais e compartilhe o conteúdo com seus amigos!

E buscamos novos parceiros e financiadores.
Desde que alinhados com o nosso propósito, histórico e perfil.
Leia mais sobre o impacto alcançado até hoje pelo Observatório, as aulas que ministramos e entre em contato.

Matérias relacionadas

Quarta-feira, 21 de maio de 2025. Por volta das 22 horas deste dia, era encerrada a sessão do Senado Federal...

A convite da Brot für die Welt e da Fundação Heinrich Böll, instituições alemãs que são destaque nas discussões sobre...

O Observatório da Mineração, centro de jornalismo e think tank que se tornou a maior referência sobre mineração e transição...

Apoie o Observatório da Mineração