Observatório participa de evento latino-americano sobre jornalismo investigativo com foco na corrupção do setor extrativo

Eu participei no último sábado, 26 de junho, da mesa “Conflitos de interesse e impacto social da indústria extrativa”, parte do “I Encuentro Latinoamericano de Periodismo para Investigar la Corrupción desde diversas miradas”, organizado pelo Convoca, do Peru.

Na minha fala, abordei um breve histórico do Observatório da Mineração, o papel que o setor extrativo ocupa no Brasil e sobretudo ilustrei com investigações publicadas os conflitos de interesse, os danos causados pelo extrativismo e o lobby feito por mineradoras e agentes políticos do nível federal ao local.

Joseph Poliszuk, fundador e editor do Armando.Info, da Venezuela, deu exemplos de matérias especiais feitas por ele sobre o garimpo ilegal e a extração de coltan, mineral que é a mistura de columbita e tantalita. Da columbita se extrai o nióbio e da tantalita, o tântalo. Ambos são encontrados na Amazônia e cobiçados por estarem dentro de terras indígenas brasileiras.

Carlos Monge, diretor regional do Natural Resource Governance Institute (NRGI), deu um panorama geral sobre os principais pontos que o lobby minerário costuma influir nos países da América Latina, das diversas formas de corrupção, a “porta-giratória” – executivos de mineradoras que se tornam funcionários de agências reguladoras – e a cooptação, entre outros.

Milagros Salazar Herrera, diretora do Convoca, falou sobre os especiais “Excesos Sin Castigo”, que aborda as violações ambientais impunes de mineradoras no Peru, as centenas de mortes de trabalhadores nas minas do Peru, em especial terceirizados – como acontece no Brasil – e a participação direta de multinacionais. E também como o Convoca tem usado deep data para as suas investigações.

A moderação foi de Yvette Sierra, da Mongabay Latam. Todas as apresentações podem ser assistidas aqui.

Em comum, os países da América Latina compartilham a mesma pressão feita por grandes empresas no cenário político, na aprovação de leis, alteração de normas, financiamento de campanhas políticas, garimpo ilegal, tráfico de minerais, violação de direitos humanos, indígenas e trabalhistas em geral.

Por isso, integração do debate latino-americano é fundamental.

Recentemente, o Convoca publicou em espanhol uma investigação do Observatório da Mineração que mostra como a mineradora Taboca, que é do grupo peruano Minsur/Breca, controlado pelo canadense Scotiabank, contaminou rios dos povos indígenas Waimiri-Atroari no Amazonas. Historicamente, a série de violações data desde a ditadura militar.

Também analisei como a eleição do esquerdista Pedro Castillo no Peru pode impactar a mineração em toda a América Latina se o programa do seu partido for seguido e o que realmente está previsto, para longe de especulações baseadas em uma visão ultraliberal que apoia o golpismo de Keiko Fuijmori.

São inúmeras as grandes mineradoras que atuam no Brasil e em vários países latinos, como Anglo AmericanNexa ResourcesGlencore, Kinross, Vale e BHP, para citar apenas algumas.

Entender como essas práticas corporativas se repetem e como as estratégias são as mesmas ajuda a investigar e reportar as violações do setor.

O “I Encuentro Latinoamericano de Periodismo para Investigar la Corrupción desde diversas miradasteve a participação de jornalistas de todo o mundo e foi organizado pelo Convoca e por sua escola de jornalismo e contou com o apoio da Global Investigative Journalism Network, do International Consortium of Investigative Journalists, do Google News Lab, do Pulitzer Center e da Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP).

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