Estudo mostra desmatamento de 10 mil hectares causado pelo garimpo nas terras indígenas Munduruku, Kayapó e Yanomami em apenas 3 anos

Um estudo que acaba de ser publicado pelo MAAP – Monitoring of The Andean Amazon Project mostra a extensão do desmatamento causado pelo garimpo ilegal de ouro na Amazônia.

Apenas de 2017 a 2019 e com foco em 3 terras indígenas – Munduruku, Kayapó e Yanomami – o levantamento detectou 10.245 hectares desmatados por garimpeiros. É uma área maior que a capital do Espírito Santo, Vitória e equivalente a 10 mil campos de futebol.

O estudo é mais uma comprovação da crescente invasão de garimpeiros em terras indígenas, motivados pela crise econômica, o governo Bolsonaro e menos fiscalização.

Recentemente, detalhei como o povo Yanomami sofre com a invasão de 25 mil garimpeiros ilegais. Com um caso confirmado de Covid-19, os Yanomami de Roraima temem a disseminação da pandemia nas aldeias, o que poderia provocar um novo genocídio do povo indígena. Os povos isolados que vivem dentro da TI são os mais ameaçados, como contei em outra matéria.

Para a Thomson Reuters Foundation, mostrei como o povo Kayapó da aldeia Turedjam no Pará, que fica dentro da TI Kayapó, conseguiu negociar a saída de garimpeiros ilegais do seu território para tentar evitar a contaminação pelo coronavírus.

Embora o exemplo possa ser replicado por outras aldeias, acreditam especialistas, o problema do garimpo ilegal dentro da terra indígena está bem longe de uma solução.

Para a Mongabay, revelei como o povo Munduruku é alvo de uma grande mineradora inglesa, a Anglo American, que tem requerimentos minerários recentes na Agência Nacional de Mineração que incidem sobre a TI, uma das mais visadas do Brasil e da Amazônia.

A Vale também tem 52 requerimentos dentro da TI Munduruku e dezenas de outros em reservas bem próximas da Kayapó, como a Mengraknoti/Baú e a Xikrin do Rio Catete.

Mais de 90% dos pedidos da Vale se referem a requerimento e autorização de pesquisa e requerimento e concessão de lavra para explorar ouro. Mas há também outros minérios na lista, como níquel, estanho, chumbo, cobre, manganês, diamante, berílio, prata e platina.

De modo geral, o movimento indígena é contra a mineração dentro das terras indígenas, tanto aquela feita por grandes empresas, como a Belo Sun, como o garimpo ilegal.

Essa é a posição da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Conselho Indígena de Roraima (CIR), da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), de lideranças yanomami, kayapó, mundurucu e diversas outras ouvidas por mim ao longo dos últimos anos.

De acordo com o estudo do MAAP, 44% dos 10 mil hectares desmatados pelo garimpo ocorreu somente em 2019, o que mostra como o incentivo público do governo Bolsonaro aos garimpeiros, o lobby feito por associações de garimpeiros dentro do Ministério de Minas e Energia e a fragilização da fiscalização provocou uma nova corrida garimpeira na Amazônia.

No estudo, a TI Kayapó é a campeã de desmatamento, com 5.614 hectares, seguida pela Munduruku, com 3.456 hectares e a Yanomami, com 1.174 hectares.

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