A intensa agenda e a amizade de Hamilton Mourão com empresários do garimpo

A agenda do vice-presidente Hamilton Mourão registrou ontem, 25 de janeiro, um encontro com José Altino Machado, fundador da União Nacional dos Garimpeiros e Dirceu Frederico dos Santos Sobrinho, Presidente da Associação Nacional do Ouro (ANORO).

Nesta semana, Mourão, que é presidente do Conselho Nacional da Amazônia, participa do Fórum Econômico Mundial e falará sobre “o futuro da Amazônia”.

Mas esse encontro com lobistas do garimpo está longe de ser uma reunião fortuita, um acaso, uma anomalia no dia a dia do vice-presidente. Pelo contrário.

A relação de Mourão com José Altino Machado é longa, frequente e de amizade.

Em julho de 2019, Mourão realizou outra reunião com José Altino e o deputado federal Euclydes Pettersen (PSC). Na ocasião, o Diário do Rio Doce registrou a proximidade entre Mourão e Machado (que é valadarense, mas se radicou em Roraima).

Conhecido de José Altino há muito tempo, o general Hamilton Mourão estendeu a recepção a um longo diálogo em seu gabinete, disse o jornal. “Foi um encontro muito proveitoso. Quando ele me reconheceu, a reunião durou mais ainda”, assinalou Machado, que deixou claras as suas intenções.

Defendendo uma “revisão” pelo governo sobre os trabalhos de exploração de ouro na Amazônia, o fundador da União Nacional dos Garimpeiros e atual presidente da Fundação Instituto de Meio Ambiente e Migração da Amazônia (FINAMA) propôs um acordo com Mourão.

“Eu fiz uma proposta, que ele achou interessante. Apresentei a ideia de criar responsabilidades mútuas no Brasil. Nós ficamos com a responsabilidade de tomar conta do trabalho que nós temos na Amazônia, enquanto o Governo assume a responsabilidade de administrar. Não tem cabimento um pedido de licença ambiental ficar pendente por mais três anos no Governo. Essa questão da morosidade não pode acontecer. Ele entendeu tudo e se colocou à disposição para nos ajudar”, disse José Altino Machado.

Essa série de reivindicações aceitas pelo governo federal é fruto de uma proximidade notável entre os lobistas do garimpo com Jair Bolsonaro, Mourão, Bento Albuquerque do MME, Ricardo Salles do MMA e outros. Machado e cia são presença frequente em Brasília.

Em setembro de 2019, Machado participou de uma audiência na Câmara ao lado de Alexandre Vidigal, do Ministério de Minas e Energia (MME), Eduardo Leão, da Agência Nacional de Mineração e novamente Dirceu Santos Sobrinho, da Anoro. No mesmo mês, Dirceu e Altino se reuniram também com o ministro Ricardo Salles, o general Augusto Heleno e Onyx Lorenzoni.

Em junho de 2020, Mourão, Machado, Sobrinho e Pettersen se reuniram novamente em Brasília. Ou seja: nos últimos 3 anos, os encontros são frequentes.  O presidente da Anoro, Dirceu Sobrinho, é empresário de garimpo e agente financeiro acusado de lavagem de dinheiro e danos ambientais em Itaituba (PA).

Em fevereiro de 2020, mostrei aqui no Observatório que a Anoro e lobistas do garimpo justamente da região de Itaituba (presentes na reunião de ontem) estão sempre em Brasília e normalmente são recepcionados pelo MME.

Estas associações influenciaram diretamente nas metas anunciadas pelo governo federal para a mineração e tem interesse direto na liberação da mineração em Florestas Nacionais, que o MME recomenda e pede.

José Altino Machado: décadas de atuação no garimpo e homenageado pela Câmara de Boa Vista

O líder garimpeiro José Altino Machado tem um longo histórico de atuação na Amazônia e em Roraima, incluindo conflitos diretos com o povo Yanomami, que sofre desde os anos 80 um genocídio causado pela invasão de dezenas de milhares de garimpeiros que ocupam ilegalmente o seu território.

Machado, inclusive, é apontado pela Funai como um dos principais responsáveis por essa invasão massiva de garimpeiros na TI Yanomami nos anos 80, que teve a participação decisiva também de Romero Jucá.

Em março de 1991, Machado afirmou em entrevista para a Folha de São Paulo que a sua associação na época estimava em 800 mil o número de garimpeiros na Amazônia e que a extração de ouro na região gerava a circulação de US$ 2 bilhões em “dinheiro vivo”.

Na mesma entrevista, disse: “É imbecilidade de quem fez uma reserva onde tinha ouro. País nenhum do mundo fez nem vai fazer”. Altino, na época com 49 anos, tinha seis aviões e explorava quatro minas de ouro e uma de estanho na Amazônia, incluindo algumas que incidiam sobre o território Yanomami. Em 1990, foi derrotado na eleição para o senado em Roraima, concorrendo pelo PMDB.

Entrevistado pelo Roda Viva em maio de 1993, falando (e se enrolando) sobre o Massacre de Haximu, em que indígenas yanomami foram mortos por garimpeiros em Roraima, Altino Machado disse que “houve até uma espécie de euforia pelo acontecimento. Como se aquilo fosse determinar, finalmente, o resguardo total da área indígena e, finalmente, fosse determinar até o extermínio da garimpagem na Amazônia toda”.

Em outubro de 2020, a Câmara de Boa Vista concedeu a Medalha de Honra ao Mérito Rio Branco e o título de Cidadão Boa-Vistense a José Altino Machado por “seu inestimável trabalho e contribuição em prol da população roraimense”.

Na justificativa para a homenagem a Câmara relata o histórico de José Altino desde os anos 60. Aviador, empreiteiro e garimpeiro.

De acordo com o texto, que lista o interesse da Vale nas reservas minerais de Roraima e a desistência da empresa em seguida, a invasão dos garimpeiros liderada por Machado em fevereiro de 1985 nas terras Yanomami seria uma “insurgência” que “trouxe de volta o orgulho e a importância” da atividade garimpeira para Roraima.

Esse “historicamente famoso movimento” proporcionou “a volta de todos os sonhos e oportunidades para o povo de Roraima” que contribuíram para a própria consolidação da criação do estado, que na época era território federal. Romero Jucá foi o primeiro governador biônico nomeado por Sarney.

O texto segue exaltando todos os “feitos” de José Altino Machado e sua “inestimável contribuição” para a Amazônia no que se refere ao setor mineral.

Enquanto isso, os deputados estaduais de Roraima acabaram de aprovar uma lei estadual encaminhada pelo governador bolsonarista Antonio Denarium que libera geral a atividade garimpeira no estado, inclusive com o uso de mercúrio.

No âmbito federal, com a eleição para o novo presidente da Câmara dos Deputados que será realizada em breve, tudo indica que o sucessor de Rodrigo Maia, seja quem for, pode colocar o projeto de Jair Bolsonaro que libera as terras indígenas para mineração em pauta.

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32 Replies to “A intensa agenda e a amizade de Hamilton Mourão com empresários do garimpo”

  1. Parabéns senhor redator MAURÍCIO , que excepcional currículo, desde romances, relatos de amores, estórias e imaginação papel e caneta aceitam tudo. Comparando o que escreve de si mesmo e dos outros nota se formidável cuidado a sua pessoa e nenhum aos outros . Um dia quem sabe verdades o encontraram ou eu mesmo para uma boa e informativa conversa. Uma pena q tenham transformado a boa informação e a próprio imprensa na visão egotista do escrevinhador JAM

    1. Caro José Altino, o senhor poderia, por gentileza, apontar qual parte do texto é baseada em “imaginação”? Seria as suas reuniões com Hamilton Mourão e outras figuras do alto escalão do governo de Jair Bolsonaro, registradas em agendas oficiais e em fotos? A sua participação em audiências públicas, também registradas? A sua entrevista em vídeo para o Roda Viva? A homenagem que recebeu da Câmara de Boa Vista, registrada em documentos oficiais? Todas essas fontes, e outras, devidamente linkadas na notícia. O espaço está aberto para apontar “imaginações” e sem dúvida topo entrevistá-lo, considerando todo o seu histórico, a proximidade com o governo e a situação atual do garimpo no Brasil. Um abraço!

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