A invasão da Ucrânia por tropas russas, que ainda não completou 10 dias, já pressiona fortemente a cotação de commodities minerais no mercado internacional.
Alumínio e carvão atingiram recordes históricos. O níquel chegou ao maior patamar em 11 anos, ultrapassando US$ 25 mil por tonelada. A Vale é a maior produtora mundial de níquel e entrou forte no setor ao adquirir minas no Canadá no início dos anos 2000.
No Pará, a Vale mantém o projeto de Onça Puma, de níquel – exportado para a Europa – que causa diversos conflitos com o povo indígena Xikrin. A mineradora tem planos para expandir a mina de níquel na Amazônia. Para Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale, o impacto da guerra nos preços ainda é “especulativo”.
O setor de metais básicos já responde por 17% da receita líquida da Vale. A gigante multinacional brasileira acabou de anunciar os resultados financeiros do último trimestre de 2021. No total, a Vale fechou 2021 com lucro líquido de US$ 22,4 bilhões, cerca de R$ 121 bilhões. É uma alta de impressionantes 360% em relação a 2020, que havia sido recorde.
Mesmo antes da guerra, portanto, o boom de commodities que vive o setor mineral especialmente a partir da pandemia – e inclui o minério de ferro, principal produto da Vale – garantiu que a Vale registre o maior lucro da sua história, quase 4 vezes superior ao recorde registrado em 2020. Esse resultado é, com folga, o maior em todos os tempos de uma empresa de capital aberto no Brasil.
A nova vice-presidente-executiva de metais básicos da Vale, Deshnee Naidoo, disse em teleconferência para investidores realizada em 25 de fevereiro, após o início da guerra na Ucrânia, que produtos como o níquel vivem “um momento emocionante”.
Assim, o foco da Vale é aproveitar o mercado favorável para vender mais níquel e cobre e aumentar o seu lucro. E a crise climática é uma oportunidade, claro, mantendo o discurso padrão do setor mineral.
O mercado de minério de ferro também deve sofrer impacto com a guerra, afirmaram executivos da Vale. Rússia e Ucrânia respondem por 25% das 120 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro, usadas como insumo na siderurgia e produzidas em grande escala no Brasil, como na Samarco em Mariana (MG). Os impactos no preço e na oferta das pelotas irá depender da duração do conflito.
Em cadeia, setor extrativo vê preços dispararem
Petróleo e gás também já registram altas significativas e a tendência é de dispararem com o isolamento da Rússia da economia mundial. A Exxon, por exemplo, anunciou que deixará as suas operações russas.
Rússia e Ucrânia colocam no mercado mais de 100 milhões de toneladas de bens que são matéria-prima e insumos industriais. Esse volume inclui minério de ferro (75 milhões de toneladas), aço, gusa, alumínio e níquel, entre outros.
A companhia russa Rusal é uma das maiores produtoras de alumínio, enquanto a Norilsk só perde para a Vale no níquel.
O cobre – commodity que o Chile é o maior produtor – se aproxima da sua maior cotação histórica, o zinco atingiu o maior nível dos últimos 15 anos e os preços do alumínio e do minério de ferro continuam a subir. É o caso também dos fertilizantes, tema caro ao Brasil, que depende massivamente de importações.
No início da semana, as três maiores empresas de transporte de contêineres do mundo suspenderam todos os embarques para a Rússia. Isso afeta diretamente, por exemplo, o porto de São Petersburgo, que registra grandes embarques de commodities minerais para outros portos fundamentais para o abastecimento mundial, como o de Roterdã, na Holanda.
Ao mesmo tempo que a guerra adiciona ainda mais tensão nas preocupações com a interrupção do fornecimento, estoques globais baixos e custos de energia em disparada, deve garantir o aumento do lucro para as maiores mineradoras do mundo.
Se a invasão da Ucrânia perdurar, os impactos no Brasil – aumento no preço dos combustíveis e de insumos para grande parte da indústria e do agronegócio – devem ser ainda mais drásticos.
O ouro, sempre tido como “investimento seguro” em tempos de crise, oscila no momento. O aumento consistente registrado desde 2020, se passar a um novo pico, pode alimentar ainda mais o garimpo ilegal na Amazônia, que atinge níveis históricos durante o governo de Jair Bolsonaro.
Em resposta aos recentes decretos de Bolsonaro que facilitam a vida dos garimpeiros, o Ministério de Minas e Energia disse que “o Programa (Pró-Mape), quando implementado, poderá fortalecer a atividade legal, contribuindo assim para as melhores práticas e fortalecimento da sustentabilidade econômica, social e ambiental nesse segmento do setor extrativo”.