Por Lúcio Ventania*
Ninguém, nenhum cidadão ou cidadã nascida nesse país, com ou sem consciência histórica pode, mesmo com justo sentimento de revolta e decepção por todos os erros e abusos cometidos, negar a importância da chegada do PT ao poder com a eleição do Lula e da primeira mulher a presidir a nação. Isso é fato.
Podem me classificar como fascista, direitista, alienado ou o que quiserem, mas hoje, diante da postura do governo, da câmara dos deputados, do senado federal e das mais altas cortes da justiça preciso, por direito, dever e indignação, falar sobre o que vejo, penso e sinto em relação à catástrofe ambiental, humana e social cometida pelos genocidas da mineração e seus cúmplices. Crime que estarrece, enfurece, prejudica e humilha a todos os Brasileiros.
Está visto. O que ocorreu em Mariana provocou a morte de mais de 20 pessoas; aniquilou o Rio Doce, uma das mais importantes bacias hidrográficas do país; desgraçou as possibilidades de subsistência de populações ribeirinhas; impiedosamente extinguiu o distrito de Bento Rodrigues; impôs a falta de água para milhares de pessoas; destruiu ecossistemas, nascentes, floras e faunas; contaminou com metais mortíferos o litoral do Espirito Santo e sabe-se lá a extensão de tamanha mortandade que tudo isso causa e causará no decorrer do tempo. Os danos são incalculáveis e grande parte, irreversíveis.
A presidenta da República, depois de 8 dias, sobrevoou a área acompanhada por ministros. Em terra concedeu entrevista coletiva. Esperava-se e ainda se espera um pronunciamento em rede nacional. Não para cumprir o protocolo de chefes de Estado em situações gravíssimas, mas para representar à altura o inconformismo da população, para agir, legitimar os votos recebidos, demonstrar conhecimento de causa e corajosamente determinar a interrupção por tempo indeterminado de toda e qualquer atividade mineradora de capital nacional ou estrangeiro no país, até que seja revista, com ampla participação popular, as leis de concessão para exploração mineral.
Ordenar a polícia federal a prisão preventiva de todos os diretores e dirigentes da Vale, Samarco e BHP e levá-los a julgamento. Bloquear os bens de todos eles, bloquear e alienar todos os ativos financeiros e materiais dessas empresas. Determinar a estruturação de uma força tarefa nacional para socorrer os diretamente atingidos. São milhares.
Convocar e dar suporte para ambientalistas, cientistas, ONG´s, manifestantes, voluntários e a todos que podem e querem contribuir para a restauração do que for restaurável. Esse tipo de ação não pode ficar nas mãos dos que cometeram o hediondo.
Em sua coletiva, na qual se apresentou com descabida arrogância, Dilma falou o óbvio. Ainda que usando o termo “multa preliminar”, apequenou-se e surpreendeu a todos ao anunciar o miserável valor de 250 milhões de reais como punição pelas incontáveis ações criminosas. Seria para rir se não devêssemos respeito e consternação pelo volume da tragédia. Para ter uma ideia da desproporção basta olhar para o governo dos Estados Unidos que multou em US$ 20,8 bilhões a petrolífera britânica BP, em função do vazamento de petróleo provocado por explosão no Golfo do México.
Diante da usura capitalista agacha-se a o governo Brasileiro. Agacha-se o congresso nacional. Agacha- se o governador de Minas. Agacha-se o prefeito de Mariana. A agacha-se a alta corte de justiça.
O Senador Aécio Neves, que diz defender Minas Gerais, nunca teve estatura para alicerçar suas pretensões politicas. Já nasceu agachado. Marionete incurável do sistema opressor. Dele não há o que esperar e sim precaver.
Em breve a notícia vai desaparecer da imprensa pesada. Não podem prescindir das volumosas cifras para a publicidade santificada. É o preço da mudez.
Mas dessa vez os rabos presos pelas doações de campanha eleitoral, propinas, favorecimentos e jogadas escusas se enterraram exemplarmente no lamaçal da insanidade e da ganância. Não há como escondê-los por traz da falsa dependência que dizem sustentar os serviços essenciais dos municípios. Estão para sempre sujos e condenados a exalar fedor tóxico.
Mas o povo não está agachado não. Está furioso e pelo menos isso é positivo. Como cidadão comum e limitado, por esse parco instrumento de comunicação, clamo por justiça. Parabenizo e apoio toda e qualquer manifestação de repúdio. Exorto a todos para que apoiem e fortaleçam os movimentos que estão surgindo para cobrar punição e reparos.
E para o governo digo: estão perdendo a última chance de terminar o mandato com o mínimo de dignidade. A farra das mineradoras tem que acabar. 13 anos no poder não são 13 dias e o que está acontecendo agora é inesquecível.
*Lúcio Ventania é mestre bambuzeiro em Ravena, distrito de Sabará, Minas Gerais (Facebook).
Apoio a cada palavra deste texto. Faço minhas essas palavras. Eu sou uma sobrevivente deste desastre. E como brasileira e Valadarense o sentimento que sinto é o de desamparo. O que tenho visto e tb fazendo são pessoas comuns que estão trabalhando para ajudar a esta população. Não vi ninguém que tem influência para cobrar uma atitude das empresas assassinas, presidência da República, governador do estado, senadores deputados, vereadores e da nossa prefeita que viesse a dar uma esperança que pudéssemos sentir que não estamos invisíveis. O povo está sofrendo. Correndo daqui e dali para buscar um pouco de água para poderem sobreviver e continuar sua luta. Perdemos o nosso Rio. Cobrou-se tanto sobre o cuidado para com a natureza e estes mesmos que cobraram são os que se omitem diante de uma tragédia de tão grande magnitude. Nem a imprensa brasileira não está fazendo reportagens e nos ajudando no nosso grito de socorro. Só podemos contar com Deus e uns com os outros. Como é triste ter que admitir que fomos abandonados.
Lúcido.
Assino com você cada palavra.