Gigante de commodities com negócios no Brasil, Glencore vai pagar multa bilionária por corrupção em vários países

Maior trader de commodities do mundo, a empresa suíça Glencore se declarou culpada das acusações de corrupção cometidas por mais de uma década, incluindo o pagamento de suborno a autoridades e a manipulação de preços, e vai pagar US$ 1,5 bilhão em multas por atividades ilegais em países da África, no Brasil e na Venezuela.

A investigação foi feita por instituições dos Estados Unidos, Brasil e Reino Unido. A trader e mineradora ainda pode sofrer novas condenações, já que também se declarou culpada por suborno cometido no Reino Unido e o processo está em andamento.

A Glencore é uma grande acionista da CSN Mineração, tendo adquirido em fevereiro de 2021 R$ 1,3 bilhão em ações da CSN, que está no top 3 de maiores exploradoras de minério de ferro no Brasil, junto com Vale e Anglo American.

A Glencore também exporta grandes quantidades de soja pelo porto de Itaqui no Maranhão e mantinha, até o final de 2021, três requerimentos minerários ativos na Agência Nacional de Mineração com sobreposições em Terras Indígenas do Pará para exploração de ouro e cobre.

Os pedidos sobrepõem às Terras Kayapó e Xikrin do Cateté, já altamente impactadas pela atuação da Vale. Os dados constam do relatório “Cumplicidade na Destruição IV”, parceria do Observatório da Mineração com a Amazon Watch.

De 2016 a 2021, o banco alemão Deutsche Bank emprestou US$ 59 milhões para as operações da Glencore no Brasil, como revelei em outubro passado.

No Brasil, Petrobrás está no centro

No Brasil, a Glencore foi investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por pagar propinas milionárias, junto das companhias Vitol e Trafigura, a funcionários da Petrobras na Operação Lava Jato.

A situação de suborno envolveu cerca de 160 operações de compra e venda de petróleo e derivados da commodity, além do aluguel de tanques para armazenamento de combustíveis entre 2009 e 2014.

No começo de 2022, a empresa fechou um acordo de leniência — mecanismo de combate à corrupção celebrado entre infratores confessos e órgãos estatais — com a Petrobras para pagar à estatal US$ 39,6 milhões pelos atos de corrupção.

“A Glencore pagou propinas para garantir contratos de petróleo, para evitar auditorias governamentais, a juízes para fazer os processos desaparecerem”, disse Damian Williams, procurador de Manhattan, analisando o quadro geral da atuação da Glencore em vários continentes.

Mesmo US$ 1,5 bi sendo uma multa relevante, isso representa apenas uma fração da receita total da empresa suíça em 2021, que foi de US$ 203 bilhões, com lucro ajustado de US$ 21 bilhões.

No Congo, Glencore fornece para a Tesla de Elon Musk

Um dos países africanos em que a Glencore assumiu que praticou corrupção é o Congo.

As minas de cobalto do país fornecem o metal direto para a fabricante de carros elétricos Tesla, de Elon Musk, recentemente “homenageado” pelo governo Bolsonaro e que busca expandir seus negócios no Brasil.

Os trabalhadores das minas de cobalto da Glencore convivem com uma série de violações trabalhistas e absoluta precarização que resvala na escravidão contemporânea.

Em 2018, Musk prometeu que iria eliminar o uso de cobalto na Tesla. Mas, em 2020, na direção contrária, anunciou um grande acordo de longo prazo com a Glencore para o fornecimento de cobalto.

Trabalhadores congoleses muitas vezes sequer recebem água e comida no trabalho nas minas.

“Reconhecemos a má conduta identificada nestas investigações e cooperamos com as autoridades. Esse tipo de comportamento não tem lugar na Glencore, e o Conselho, a equipe administrativa e eu somos muito claros sobre a cultura que queremos e nosso compromisso de ser um operador responsável e ético onde quer que trabalhemos. Tomamos medidas significativas para construir e implementar um Programa de Ética e Conformidade de classe mundial para garantir que nossos controles principais sejam arraigados e eficazes em todos os nossos negócios”, declarou o CEO da empresa, Gary Nagle, em nota no site oficial sobre as investigações.

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