O dobro de ferro, quatro vezes mais de alumínio e três vezes mais manganês do que havia no Rio Doce antes da chegada da lama tóxica da Samarco. Redução de 40% em diversidade e grande diminuição dos tipos de plânctons disponíveis, microalgas base da cadeia alimentar. Impactos ainda desconhecidos na saúde humana que só vão surgir em quatro ou cinco anos. O excesso de manganês, por exemplo, pode causar efeitos neurológicos, entrando no sistema nervoso e acarretando em sintomas parecidos com o Parkinson. Sem esquecer da lama concentrada no fundo do mar e que ameaça o banco de Abrolhos, na Bahia, maior formação de recifes de coral do Atlântico Sul e habitat de baleias jubarte. Contaminação crônica e que durará por décadas.
A conclusão é de um grupo de oito pesquisadores, incluindo geólogo, físico, biólogo, oceanógrafo e químico e que resultou em um relatório final de 260 páginas. A pesquisa levou em conta materiais coletados ao longo de um ano na foz do Rio Doce. Durante esse período, oito amostras colhidas foram analisadas. A média dos resultados encontrados foi comparada com dados de estudos feitos antes do rompimento da barragem.
Segundo o professor Alex Bastos, do Departamento de Oceanografia (Ufes), a foz do Rio Doce já era foco de pesquisas desde 2013, permitindo assim um estudo comparativo da quantidade de metais depositados no fundo do mar da praia de Regência. “Basicamente, este relatório, que tem como título Monitoramento da influência da pluma do Rio Doce após o rompimento da Barragem de Rejeitos em Mariana/MG – Novembro de 2015: Processamento, Interpretação e Consolidação de Dados (divulgado com exclusividade pelo Miniver), consolida tudo o que foi coletado e analisado na foz do Rio Doce depois do desastre e tenta fazer uma comparação com dados de pesquisas anteriores realizadas pela equipe da Ufes. Eu diria que essas pesquisas traçam um retrato das condições do ecossistema, o que foi mais impactado. A recuperação do Rio Doce passa por outras ações e este trabalho é mais um diagnóstico do ecossistema e serve para os gestores tomarem decisões com relação ao uso da região para diversos fins”, afirma o professor.
Já Renato Rodrigues Neto, do Departamento de Oceanografia, diz que em coleta realizada um ano após o ocorrido, os pesquisadores verificaram que, para os metais, existiu uma diminuição da concentração inicial após o impacto e, depois, um aumento em novembro de 2016, quando as chuvas se intensificaram.
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“Esses novos dados revelaram que ainda existe muito material oriundo da queda das barragens na calha do Rio Doce, o que significa que o aumento demonstrado nos dados da coleta de novembro pode continuar se repetindo a cada ano em épocas de chuva”, explica o professor.
Segundo o ICMBio, o estudo servirá de base para articular novas ações no Rio Doce. O órgão também informa que vai compartilhar o relatório com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturáveis Renováveis (Ibama), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo (Iema).
*Com informações da UFES e da Agência Brasil
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