Derrota de Jair Bolsonaro é essencial para frear o garimpo ilegal, a destruição da Amazônia e a crise climática

Aliado direto de grandes empresários do garimpo ilegal, perseguidor de lideranças indígenas, autor de projeto de lei e lobista por mineração em terras indígenas, responsável pela explosão do desmatamento na Amazônia e pelo aumento substancial de casos de grilagem, invasões de terras, assassinatos e conflitos.

A ficha corrida desses 4 anos de governo de Jair Bolsonaro é imensa.

Qualquer um que guarde o mínimo de bom senso e que esteve atento ao quadro de brutal destruição e exponencial aumento da violência dos últimos 4 anos de horror sabe bem disso.

Mas é preciso deixar claro: as eleições presidenciais do próximo dia 30 de outubro definirão, em grande parte, a manutenção ou não da vida na Terra.

Não é exagero.

E a ciência comprova.

As comparações não deixam dúvidas. O PT assumiu o governo em 2003 com a taxa de desmatamento em 25 mil km2 e reduziu a 4.500 km2, queda de 67% durante a gestão de Lula.

Bolsonaro assumiu com 7.500 km2 e levou a 13.000 km2, aumento de 72% nos primeiros 3 anos de gestão, ainda sem contabilizar os números finais de 2022.

A Amazônia se aproxima perigosamente do famoso “ponto de não retorno”, com grande parte da floresta já “savanizada” e emitindo mais carbono do que consegue absorver.

As consequências do mandato de Jair Bolsonaro serão sentidas por muito tempo e a diferença é que agora o mundo tem ainda menos tempo para frear a crise climática global. A preservação da Amazônia é fundamental para a última tentativa de manter os níveis de aquecimento dentro do “aceitável”, cenário cada vez mais improvável diante dos fatos, afirma o IPCC.

Um estudo da FGV mostrou que, nos últimos anos, “o forte aumento dos desmatamentos e emissões de gases de efeito estufa (frente a 2018) gerou um prejuízo econômico para o mundo de R$ 1,18 trilhão”.

De 2019 a 2022, quase 50 mil km2 de floresta foram derrubados, um aumento de 72% em relação ao quadriênio anterior (2015-2018) e de 125% na comparação com o período 2011-2014.

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Vitória de Lula pode salvar 76 mil km2 de floresta

Uma vitória de Lula, porém, pode reduzir o desmatamento em até 89% na próxima década, salvando 75,960 km2 de floresta. Área equivalente a quase duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro.

O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Oxford e do INPE.

O Brasil é o sexto maior emissor de gases que causam o efeito estufa atualmente, grande parte em função do desmatamento. E o setor minero-siderúrgico responde por 5% do total, com 107 milhões de toneladas despejadas na atmosfera todo ano. A Vale, sozinha, está entre as maiores emissoras do planeta.

Não por acaso, o governo Bolsonaro apostou em uma “pedalada climática” em 2020, destruindo os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. O país mudou para mais a base de cálculo das emissões da meta, proposta originalmente em 2015. Só que, nessa atualização, o governo não fez o ajuste correspondente no percentual de corte de emissão (43% até 2030 em relação a 2005). Com isso, o país inflava artificialmente seu compromisso internacional, dando-se o direito de emitir até 400 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2030 a mais do que na proposta de 2015 e, mesmo assim, cumprir a meta. Essa manobra é vedada pelo Acordo de Paris.

Com Bolsonaro no poder, as emissões continuariam a disparar, contribuindo decisivamente para o agravamento da crise climática global e o comprometimento da vida na Terra nas próximas décadas.

Outro estudo, liderado por Gilberto Câmara, ex-INPE, confirma: sob Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia pode atingir 20mil km2 anuais já em 2024. Hoje, está entre 13 mil e 15mi km2. Quando Bolsonaro assumiu, estava em 7,5 mil km2. Mais floresta no chão, mais gases de efeito estufa na atmosfera, mais irreversível a crise climática se torna.

“O governo Bolsonaro desmontou os principais órgãos de fiscalização ambiental, reduziu o orçamento do INPE a 20% do que o Instituto recebia em 2010, além de demitir seu diretor [Ricardo Galvão, em 2019]”, destacou Câmara em nota técnica. “Entre 2016 e 2021, houve queda de 40% nos autos de infração do IBAMA na Amazônia. O embargo de áreas desmatadas caiu em 85% em 2020 comparado com 2018. Em 2021, o IBAMA só liquidou 41% de seu orçamento”.

Além da Amazônia, áreas como o Cerrado, essencial para a produção agrícola e para o agro que apoia Bolsonaro, também sofreriam enormemente, impactando não só o meio ambiente e comunidades tradicionais, mas o próprio bolso dos produtores, com o agravamento da crise climática.

Garimpo ilegal explodiu com Bolsonaro

Dados do mês passado mostraram que o garimpo ilegal em terras indígenas aumentou impressionantes 632% de 2010 a 2021. É no período do governo de Jair Bolsonaro, porém, que a situação se agravou drasticamente.

Em 2021 o garimpo registrou a maior expansão em 36 anos, devorando 15 mil hectares num único ano. Em cinco anos, de 2017 a 2021, novas áreas de garimpo atingiram 59 mil hectares, superando todo o espaço tomado pela atividade garimpeira até o fim da década de 80.

Com Bolsonaro e sua turma no poder, o lobby do garimpo nunca foi tão próximo do governo federal. E continuará sendo em caso de reeleição do atual presidente. A bancada da mineração permaneceu forte, como os resultados do primeiro turno analisados por este Observatório mostram.

Luís Inácio terá enorme dificuldade em negociar com um Congresso tão antiambiental, que contará com até 41% das cadeiras na Câmara.

Relatório de auditoria recém-publicado pela Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que, no governo Bolsonaro, as autorizações para garimpos são dadas mesmo com documentos incompletos, sem verificação, transparência, padronização e que as superintendências regionais da ANM apresentam erros sistêmicos.

A consequência é a facilidade para que garimpeiros obtenham permissões de lavra garimpeira (PLG’s) sem a devida checagem de licenças ambientais e da área total concedida, que pode ser superior a 10 mil hectares.

Donos de mineradora denunciados por homicídio qualificado doaram R$ 750 mil para a campanha de Bolsonaro

Os donos da Herculano Mineração, réus por homicídio qualificado pelo crime do rompimento da barragem de rejeitos em Itabirito (MG) em 2014, doaram, em conjunto, 750 mil reais para campanha de Jair Bolsonaro.

Glaúcio Herculano Antunes, Jairo Herculano Antunes e Mardoquel Herculano Antunes respondem pela mortes de três funcionários. As doações podem ser confirmadas entre os valores recebidos por Bolsonaro no TSE e a denúncia foi feita primeiro pelo Movimento Pelas Águas de MG.

Em agosto, decisão resolveu que os diretores irão a Tribunal do Júri pelos crimes de homicídio qualificado de três vítimas, além de diversos delitos ambientais.

Conforme a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais, no dia 10 de setembro de 2014, entre 7h30 e 8h, no complexo minerário Mina Retiro do Sapecado, na zona rural de Itabirito, ocorreu o rompimento da barragem, causando o escorregamento de 300 mil metros cúbicos de rejeitos, atingindo as vítimas que trabalhavam no local.

De acordo com a MPMG, os denunciados foram os responsáveis pelas mortes, pois sabiam das condições precárias da barragem e não agiram para evitar a tragédia. Os crimes, conforme a denúncia, foram praticados por motivo torpe uma vez que não foi assegurado o controle efetivo da segurança da barragem.

Caso condenados pelo júri popular, os acusados poderão pegar penas superiores a 60 anos de prisão.

“Pacote de destruição da indústria” e mineração em terras indígenas podem avançar

Mais 4 anos para Bolsonaro também tendem a colocar em prática o pacote entregue pela Fiemg e parte da indústria brasileira, detalhados com exclusividade pelo Observatório da Mineração.

Entre os pedidos da Fiemg, estão: a aprovação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental na versão relatada pelo deputado ruralista Neri Geller, com aplicação da lei às atividades minerárias; que as licenças ambientais sejam concedidas após o prazo legal para análise; a não aprovação do PL 2788 de 2019, que institui a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), impedindo que a população vete projetos minerários; a possibilidade de empresa que estiver exercendo atividade sem licença ou autorização – portanto ilegal e criminosa – “solicitar espontaneamente” a regularização do seu empreendimento sem sofrer qualquer sanção; o fim da anuência do IPHAN obrigatória nos estudos de impacto ambiental e a “desburocratização” para exigir estudos arqueológicos e antropológicos; o fim da necessidade de anuência do Ibama para supressão de Mata Atlântica por empreendimentos minerários; alteração do Mapa de Biomas do IBGE, entre outros.

Para Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, o pacote pedido pela Fiemg “é um desrespeito completo a todo o arcabouço normativo da política ambiental. O resultado disso vai ser muita degradação. É uma tragédia ambiental”, disse.

Todas as fotos por Isis Medeiros/Observatório da Mineração

Há ainda, o PL 191/2020, assinado por Jair Bolsonaro e pelos ex-ministros Bento Albuquerque, de Minas e Energia e Sérgio Moro, da Justiça, agora senador eleito. O PL conta com o apoio de Arthur Lira, presidente da Câmara, que tentou de todas as formas a sua aprovação e ainda não conseguiu.

Caso aprovada, a proposta pode causar a perda de 160 mil km2 de floresta na Amazônia, área maior que a superfície de países como a Inglaterra. Nas taxas atuais, isso significaria quase 20 anos de destruição de mata nativa causado por um único PL.

Além disso, a proposta  também causará prejuízo de US$ 5 bilhões de dólares anuais em serviços ecossistêmicos, considerando apenas a produção de alimentos como a castanha-do-pará, a extração de madeira e borracha de modo sustentável, a mitigação de gases do efeito estufa e a regulação climática.

A conclusão é de um estudo feito por pesquisadores brasileiros – da USP, UFMG e ISA – e australianos publicado na revista científica One Earth.

O assassinato de Bruno Pereira e Dom Philips, como detalhei, está repleto das digitais do bolsonarismo. Assim como a morte de dezenas de outros ativistas e lideranças locais na Amazônia.

Já Lula, em visita ao ATL 2022, maior mobilização indígena do Brasil, prometeu acabar com o garimpo em terra indígena, criar um Ministério indígena e respeitar a consulta livre, prévia e informada que as comunidades indígenas e tradicionais tem direito.

“Todo decreto criando empecilho terá que ser revogado imediatamente. A gente não pode permitir que aquilo que foi conquista da luta de vocês seja tirado por decreto, para dar direito a aqueles que acham que tem que acabar com a nossa floresta e nossa fauna. Se voltarmos ao governo, não será permitido fazer qualquer coisa em terra indígena sem que haja a concordância e a concessão de vocês”, prometeu Lula.

O candidato do PT reforçou as promessas em diversas outras oportunidades. E os seus mandatos passados provam que a chance de cumprir com a palavra é alta.

Até a Nature, uma revista científica neutra por excelência, declarou voto em Lula. “O governo de Jair Bolsonaro foi desastroso para a ciência, o meio ambiente, para o povo do Brasil – e para o mundo”, afirmou a Nature.

Em suma, os brasileiros precisarão escolher, em breve, se querem contribuir para extinguir a vida na Terra e manter o inferno atual na Amazônia, ou se preferem caminhar para um quadro razoável com uma chance mínima de dignidade e respeito pela vida e pelo Meio Ambiente.

Nunca foi uma escolha difícil.

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