O Instituto Terra, ONG do premiado fotógrafo Sebastião Salgado e que recebe financiamento da Vale para projetos de recuperação de nascentes em Minas Gerais, publicou ontem, dia 13, um comunicado a respeito do crime ambiental em Bento Rodrigues e que se espalhou até o ES.
O texto, apesar de soar como um libelo de boa vontade, é vago e inócuo, não conclui nada com o impacto esperado diante de um crime ambiental como esse, considerado o pior da história do Brasil. Era esperado que a ONG, pelo trabalho que desenvolve e pela imagem de Sebastião Salgado, fosse bem mais pontual e propositiva – exatamente como foi cobrado em redes sociais e em diversos artigos. Ao contrário, o comunicado suscita uma série de interrogações. Como sou jornalista e jornalista adora perguntar, destaco e questiono alguns pontos desse texto:
“Diante do acontecido, o Instituto Terra imediatamente mobilizou todo o seu corpo técnico na elaboração de um projeto para recuperação do Rio Doce.”
Quais são as especificidades desse corpo técnico e quem o compõe?
Como puderam realizar um projeto de recuperação do Rio Doce em tão pouco tempo?
Que informações usaram para compor esse projeto?
Como essas informações técnicas foram levantadas?
Tiveram acessos a laudos ou realizaram pesquisas próprias?
O que esse projeto fará, quais ações pretende desenvolver e quais são os prazos e metas de realizações?
“A proposta prevê a criação de um Fundo com recursos financeiros subsidiados pelas empresas responsáveis pelo desastre, que possibilite, além da recuperação de nascentes, absorver todos os investimentos e ações destinados à reconstrução das condições ecológicas, bem como gerar recursos contínuos para projetos sociais, econômicos e de geração de emprego e renda em toda a região que constitui essa bacia hidrográfica.“
Qual é o valor total desse projeto esplêndido e como serão implementadas as garantias de que as mineradoras irão custear cada centavo?
O que exatamente significa “absorver todos os investimentos e ações destinados à reconstrução ecológica, etc…”?
O projeto do instituto pretende angariar para si qualquer valor aplicado pela empresa na reestruturação ambiental, social, educacional e de bem-estar de toda a região atingida?
Até as possíveis multas que a presidente anunciou que irá impingir – mui justamente – às mineradoras?
Haverá prestação pública de contas?
“O projeto já foi discutido com os Governadores de Minas Gerais e do Espírito Santo, bem como com o Governo federal. Cofundador e Vice-Presidente do Instituto Terra, Sebastião Salgado tratou do tema diretamente com a presidente Dilma Rousseff, na manhã desta sexta-feira (13 de novembro), em Brasília, que se mostrou empenhada e favorável à iniciativa, e assumiu o compromisso de criar um comitê para negociar com as empresas responsáveis pelas barragens de Mariana“.
Quais foram os termos discutidos nesse encontro realizado em um momento tão propício para tomada de decisões dessa natureza?
Se foi assumido o compromisso de criar um comitê – mas que mania desgraçada de criar comitê pra tudo! -, então cadê? Quem compõe esse comitê?
Quais são os prazos pra tomar qualquer decisão e aplica-las?
Cadê anúncio formal e oficial, além de real constituição dessa – opa – equipe de trabalho?
“Além do Governo federal e dos Governos Estaduais, o plano para recuperação do Rio Doce deve envolver os governos municipais, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, para pleno direcionamento dos recursos e tecnologias a serem empregados na região“.
Envolver como, se já foi dito lá em cima que o fundo financeiro que sustentará essa iniciativa será de responsabilidade das empresas que cometeram esse crime ambiental?
A proposta dúbia é intencional ou uma tentativa de aliviar a barra do investidor?
O Instituto Terra pretende pedir que os poderes públicos federal, estadual e municipal “contribuam” com dinheiro, maquinário ou mão de obra para resolver um grave crime ambiental cometido por desleixo da Samarco/Vale/BHP?
Mas isso não vai contra o clamor popular, que é bem claro ao exigir que essa tríade custeie todo e qualquer gasto com projetos ambientais e sociais?
“Já sabíamos que restabelecer a vida do Rio Doce seria um processo difícil e de longo prazo. Agora, exigirá mais empenho e urgência nas ações, bem como uma aprendizagem ambiental compartilhada com a sociedade“.
O Instituto Terra cogitou cobrar justamente “empenho e urgência nas ações” da Vale, empresa que financia seus projetos e é co-responsável pelo crime ambiental?
Cabe um pequeno conselho do Ministério da Verdade à assessoria do Instituto Terra: para uma instituição desse porte e com essa história de envolvimento com recuperação ambiental, a estratégia de “fazer cara de paisagem” não é das mais recomendáveis. O atual momento carece de instituições e pessoas que proponham habilmente e realizem sem delongas.
acho muito válido o jornalismo investigativo mas vcs jogam pedras em genis, metralham mais que EI, destesto isso… perdi meu tempo, não leem as materias direito fazem perguntas ja respondidas e atiram em quer quer que seja. isto e tão podre como a grande midia. grande irmão, fui .
Sinta-se livre para ir e voltar quando quiser, Gisella. Se ainda estiver por aqui, gostaria que mostrasse, didaticamente, onde estão, no comunicado do Instituto Terra, as respostas para as perguntas levantadas nesse post.
Gisella, concordo plenamente com sua perplexidade. Não sei de onde, nem porque recorrer-se a tal ferocidade, se não acusatória, no mínimo “desconfiatória”. Gosto do site, e de sua proposta, mas repudio integralmente tal tiroteio precoce e irresponsável. A prudência, e a pesquisa sobre o que já foi cogitado e respondido, é parte mínima necessária, essencial, a qualquer proposta séria de jornalismo investigativo. Infelizmente, uma de minhas expectativas de avanços nas redes, e na internet, vai entrando em crise. Vamos acompanhar, e ver se se trata de um projeto jornalístico, ou apenas mais um de propaganda ideológica por teses obscuras.
Paulinho, novamente, como assinalado acima, todas as perguntas feitas no texto ficaram sem resposta. Sinta-se à vontade para responder.
No mínimo estranho….
As ponderações sobre o comunicado estão corretas.
Qualquer tentativa de plano de ” recuperação ” das áreas atingidas é um exercício de imaginação. Não é um Chernobil , nem um Bopau ( India ) e nem um Fukushima. Aí já temos algumas coisa aprendida e a lidar. Trata-se de algo novo, diferente. Não sabemos as extensão , nem as consequências ainda. Qualquer iniciativa indenizatoria ou de ressarcimento ou de recuperação ambiental é mais uma demonstração de boa vontade do que algo que se possa realmente confiar. Duvido que a equipe técnica do Instituto Terra tenha competencia para isso.
Confesso que estou amedrontado. Como essa empresa foi capaz de conviver com tal risco? Como as autoridades ambientais do nosso pais conseguiram ter tanta incompetencia? A metodologia de extração dessa mineradora armazenava uma bomba! Explodiu!
Hoje temo ao passsar por baixo de pontes, viadutos. Os individuos que dão a licença de uso são os mesmos que licenciaram a mineradora lamacenta.
O Instituto Terra deveria manisfestar o horror e indignação e não a mão samaritana.
Parece-me no mínimo discutível que uma organização financiada pela mineradora responsável pelo crime seja quem tome as rédeas das propostas e soluções.
Novamente escrevo aqui: pela maioria dos comentários, é claro que a Vale acertou em cheio na escolha do fotógrafo Salvador da Pátria. Eita Brasil que gosta de um Roque Santeiro!!