“Enquanto companhias mineradoras do mundo inteiro reavaliam a forma de armazenar dejetos após mais um terrível vazamento em uma barragem, a solução poderia ser tão simples quanto drástica: gastar muito mais.
As imagens das enxurradas de lama em cidades e rios poderiam ficar no passado se as minas utilizassem diferentes tipos de armazenamento, como a remoção de água ou a construção em terrenos mais estáveis.
Embora isso possa custar até dez vezes a mais para empresas já pressionadas pela queda dos preços, o custo é muito mais alto quando as coisas saem errado.
Os custos de limpeza do vazamento ocorrido no dia 5 de novembro na Samarco, a joint venture de minério de ferro da BHP Billiton e da Vale, provavelmente superarão US$ 1 bilhão, além de anos de produção perdida, disse o Deutsche Bank.
“A falha é muito mais cara do que fazer as coisas do modo certo”, disse Dirk van Zyl, professor de Engenharia da Mineração na Universidade de Colúmbia Britânica e um dos três especialistas em um painel sobre o rompimento de uma barragem ocorrido no ano passado no Canadá.
O vazamento da Samarco, que expulsou uma enxurrada de lama para as comunidades abaixo, ocorre um ano após a mina da Imperial Metals em Mount Polley, Canadá, também ter vazado bilhões de litros em lagos e rios. Uma característica comum a ambos os casos foi a fluidez dos dejetos.”
¨Fazer as coisas do jeito certo” custa caro, muito caro. Um custo, nesse caso, dez vezes maior que os acionistas da Samarco não estão dispostos a arcar, exceto quando sua falha, negligência e omissão ficam evidentes e precisam pagar o preço no mercado internacional. Jac Nasser, presidente do conselho de administração da BHP, após contratar uma investigação externa sobre o acidente, demonstra preocupação com a queda das ações, mas confia que “o mercado é cíclico”. Ou seja: logo logo a empresa consegue se livrar do problema e da pressão midiática para retomar o “crescimento”, como, de fato, normalmente acontece.
“Nasser também comentou que acionistas da BHP têm demonstrado preocupações com a sustentabilidade dos dividendos da mineradora anglo-australiana, num momento de queda nos preços das commodities e após o incidente em Minas Gerais.
Segundo Nasser, a BHP revisa seus dividendos regularmente, sempre levando em conta que é preciso priorizar um balanço financeiro forte.
“No contexto dessa economia global desafiadora, vimos uma queda significativa nos preços das ações de empresas de recursos minerais este ano, inclusive no preço de nossa própria ação”, disse Nasser, durante reunião anual de acionistas em Perth, no Estado da Austrália Ocidental.
“Como vocês, estamos decepcionados com o atual desempenho de nossa ação…no entanto, o negócio de recursos minerais é cíclico”, acrescentou.