Relatório do Observatório da Mineração revela que o Pará, anfitrião da COP 30, é o estado mais exposto ao risco climático entre as principais regiões mineradoras do Brasil

Um inédito e inovador relatório sobre os riscos climáticos cumulativos da mineração no Brasil alerta que o Pará – o estado anfitrião da COP 30 em 2025 – é o mais exposto a desastres relacionados ao clima.

O estudo “Riscos Climáticos Cumulativos Para Minerais de Transição no Brasil”, feito pelo Observatório da Mineração em parceria com o Mission Climate Project, da Inglaterra, revela que as atividades de mineração, combinadas com a piora das condições climáticas, estão aumentando a insegurança hídrica, expondo comunidades a eventos climáticos mais extremos e aumentando os riscos socioambientais nos principais estados mineradores, incluindo Minas Gerais, Goiás e Bahia, além do Pará.

As descobertas ressaltam o paradoxo de sediar uma conferência global sobre o clima em um estado onde a extração industrial acelera o desmatamento – alterando diretamente o equilíbrio climático da região – e ameaça a resiliência das comunidades e dos ecossistemas locais.

À medida que o Brasil se posiciona como um dos principais fornecedores de minerais para a transição energética, o país enfrenta uma pressão crescente para expandir as atividades de mineração em áreas críticas de biodiversidade.

Essa expansão tem um custo que está colocando em risco comunidades e ecossistemas inteiros. O relatório ressalta a necessidade urgente de medidas de adaptação climática, supervisão regulatória e maior proteção às comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

Foto de destaque: operação da Vale em Carajás no Pará / Salviano Machado / Agência Vale / Divulgação

Destaques

O estudo destaca como as mudanças climáticas estão aumentando a exposição a condições climáticas extremas e à degradação ambiental no Pará, Minas Gerais, Goiás e Bahia, enfatizando a necessidade urgente de uma gestão de riscos mais rigorosa nas áreas de mineração. As principais evidências incluem:

  • Pará, o estado minerador mais vulnerável ao clima: O estado amazônico está enfrentando o aumento do calor extremo, chuvas irregulares e períodos de seca prolongados, o que ameaça as comunidades locais e o papel da floresta tropical como regulador do clima global.
  • Cerrado sob crescente pressão: Como o “berço das águas” do Brasil, o bioma Cerrado – que abriga Goiás e parte da Bahia – está sofrendo uma redução no fluxo dos rios devido à mudança nos padrões de chuva, colocando em risco a disponibilidade de água para as populações locais e para o ciclo hidrológico mais amplo da Bacia Amazônica.
  • Mudanças climáticas intensificam os riscos socioambientais: A escassez de água, a alteração dos padrões climáticos e a degradação do ecossistema estão agravando as disputas existentes por terras e recursos, aumentando as pressões sobre as comunidades tradicionais. A falta de cumprimento das normas e a ausência de consentimento livre, prévio e informado aumentam ainda mais os riscos de remoção forçada e de conflitos.
  • Condições climáticas extremas prejudicam as operações de mineração: Secas, inundações e extremos de calor mais frequentes e severos estão interrompendo as atividades de mineração, com efeito dominó sobre as populações locais e as economias regionais, representando riscos à segurança do fornecimento de minerais em nível nacional e global.

“O relatório mostra que a crise climática representa uma ameaça não só para toda a sociedade que consome produtos derivados da mineração e para as comunidades diretamente afetadas, mas para a própria indústria mineral”, afirma Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração e doutorando em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP).

Na Folha de S. Paulo: Estados mineradores são altamente vulneráveis à mudança do clima, diz relatório

“O mito da mineração sustentável não pode ser comprovado na prática e, sem uma mudança concreta no modelo mineral atual, o Brasil e o mundo verão a crise climática se acelerar”, diz Angelo, que também é mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

“Enquanto o mundo se prepara para a COP 30 em Belém, precisamos encarar que a corrida pelos chamados minerais críticos está acelerando a crise climática na Amazônia. Precisamos agir agora para garantir um planeta habitável para as próximas gerações”, disse Gabriela Sarmet, consultora do Observatório da Mineração. “Esse relatório mostra que estamos colocando em risco a segurança climática planetária para participar dessa disputa geopolítica por minérios que, na realidade, está criando zonas de sacrifício no Brasil para atender a demanda de descarbonização do Norte.”

Com investimentos de US$64 bilhões previstos até 2028 para a expansão do setor mineral no Brasil, incluindo novos projetos de minerais estratégicos, os impactos tendem a se agravar.

Na Agência Brasil: Busca por minerais da transição energética acelera crise climática

O relatório pede uma ação urgente dos tomadores de decisão, líderes do setor, atores regionais, nacionais e internacionais, recomendando regulamentações ambientais mais rígidas, estratégias de adaptação climática mais contundentes, a proteção das comunidades da linha de frente e seus direitos à terra, e uma transição para longe das práticas destrutivas da mineração.

Com a Amazônia no centro dos debates climáticos globais, este relatório serve como um alerta. A aproximação da COP 30 em Belém precisa fazer com que os tomadores de decisão se perguntem: “O futuro da mineração no Brasil vai se alinhar com seus compromissos climáticos – ou prejudicá-los?”.

LEIA EM PORTUGUÊS

Resumo Executivo / Versão Resumida

Versão completa do estudo “Riscos Climáticos Cumulativos Para Minerais de Transição no Brasil”

READ IN ENGLISH

Executive Summary / Abridged Version

Complete Version of the report “Cumulative Climate Risks for Transition Minerals in Brazil”

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