Novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira recebeu mais de R$ 2 milhões de mineradoras nas campanhas para senador

Nomeado por Lula como o novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG) assume o cargo após ter recebido doações expressivas de mineradoras nas duas últimas campanhas para senador.

Na campanha de 2022, em que foi o nome de Lula para o Senado em Minas Gerais e saiu derrotado pelo bolsonarista Cleitinho Azevedo (Republicanos), a Direção Estadual do partido de Silveira, o PSD, recebeu R$ 200 mil em doação de Frederico Carlos Gerdau Johannpeter, sócio da Gerdau, repassado ao candidato.

Na campanha para o Senado em 2014, no entanto, quando concorreu como suplente de Antonio Anastasia (PSDB-MG) e foi eleito, a chapa de Silveira recebeu mais de R$ 2 milhões de doações de mineradoras.

Entre as empresas, constam a CBMM da família Moreira Salles, que explora nióbio em Araxá e a MBR, adquirida pela Vale, como as maiores doadoras, com R$ 500 mil cada. A Gerdau vem em seguida, com R$ 400 mil. A Vale Energia contribuiu com R$ 300 mil.

A ArcelorMittal, a Usiminas e a Vallourec com R$ 100 mil cada. A Vale Minas do Azul doou R$ 126 mil no total e a Aperam Inox doou R$ 30 mil. Todas as doações são legais e registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Foi por sido eleito suplente de Anastasia que Alexandre Silveira assumiu o mandato de senador em 02 de fevereiro de 2022, quando Anastasia foi assumir outro cargo de enorme relevância, o de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), posto vitalício.

Silveira também é muito próximo do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem foi coordenador da campanha de 2018 e diretor de assuntos técnicos e jurídicos do Senado, nomeado por Pacheco, de fevereiro de 2021 até assumir como senador 1 ano depois.

Grandes mineradoras, sobretudo de Minas Gerais, têm, portanto, ligações diretas e indiretas com o novo ministro de Minas e Energia, com um ministro do TCU que é ex-governador de MG e ficará no cargo até 2036 e com o atual presidente do Senado.

Procurado para comentar possíveis conflitos de interesse, a assessoria do MME disse que a equipe de comunicação ainda não foi indicada pelo novo ministro e por isso não poderia responder as questões. Depois, que responderia em breve e não retornou. Então, eu conversei com dois assessores diretos de Alexandre Silveira, que não retornaram após o primeiro contato.

A assessoria do TCU, após vários emails e ligações, não respondeu. O espaço segue aberto para o MME, Silveira e o TCU esclarecerem suas posições.

Para Fabiano Angelico, mestre e doutorando em Administração Pública pela FGV EAESP, as doações de mineradoras para o atual ministro de Minas e Energia configuram um enorme potencial conflito de interesses porque as decisões do MME precisam ser tomadas olhando o interesse público mais amplo e essas decisões podem vir a conflitar com os interesses das mineradoras.

Para diminuir esse risco, a solução é mais transparência e controle social, acredita. “O MME precisa ser provocado a ser o mais transparente possível com relação a todo o processo de tomada de decisão. Isso inclui reuniões e encontros. A única forma de lidar com esses conflitos potenciais é controlar, monitorar e mitigar”, diz Angelico.

Para o especialista em transparência e anticorrupção, o contexto de ter todo um grupo político de Minas Gerais ligado a mineradoras e com poder de decisão muito grande no Brasil é relevante, incluindo um ministro do TCU, o que acrescenta mais uma camada. Embora o Tribunal de Contas seja um órgão colegiado, de decisão coletiva, é necessário acompanhar de perto.

“Será preciso muita atenção e monitoramento por parte da sociedade civil, dos órgãos de imprensa e também dos órgãos de controle horizontal, como o Ministério Público. Porque o risco é evidente que existe”, reforça Angelico.

O Observatório da Mineração não aceita anúncios de mineradoras, lobistas e políticos. Por isso, precisa dos leitores para continuar a investigar o que o setor mineral não quer que a sociedade saiba e oferecer acesso gratuito às matérias. Faça uma doação recorrente no PayPal ou colabore via PIX com o valor que desejar no email apoie@observatoriodamineracao.com.br

Novo Ministro quer separar a mineração industrial do garimpo

As primeiras declarações de Silveira após ter sido nomeado ministro incluem o objetivo de separar as grandes empresas do garimpo ilegal, que aumentou mais de 600% dentro de terras indígenas na última década.

“A mineração é um setor muito importante e estratégico para o Brasil. Vamos ter de trabalhar muito para poder separar os empresários da mineração daqueles que, de forma ilegal, exploram os garimpos. Vamos precisar, junto com o ministro da Justiça, Flávio Dino, trabalhar para separar o joio do trigo”, disse Silveira.

O protagonismo que o lobby do garimpo assumiu com Jair Bolsonaro e as manchetes que as redes criminosas garimpeiras que movimentam bilhões passaram a ocupar nos últimos anos não é bom para a imagem da mineração industrial, que quer se desvencilhar de qualquer relação. Em muitas regiões, também, garimpeiros rondam operações de grandes mineradoras, causando uma série de problemas e conflitos.

O atual presidente do IBRAM, que representa 85% da mineração no país, Raul Jungmann, declarou em setembro que “o setor minerário é claramente adversário do garimpo ilegal”. “Pagamos impostos e contribuímos para a balança comercial. O garimpo ilegal, não! Ele destrói a natureza e as comunidades”, afirmou.

O necessário combate ao garimpo ilegal com ações de inteligência e integrado com as pastas da Justiça e Povos Indígenas é urgente. Entre os primeiros atos de Lula constou a revogação do Decreto 10.966 de Bolsonaro, que havia criado um programa de apoio ao garimpo.

A relação com as grandes mineradoras, porém, muitas responsáveis por grandes desastres e uma série de violações de direitos, deve permanecer aberta e direta, como sempre foram no Brasil em rigorosamente todos os governos.

O IBRAM cumprimentou a eleição de Lula e afirmou que “as mineradoras brasileiras se dispõem a colaborar e desejam amplo sucesso ao Sr. Presidente eleito e ao seu governo para o desenvolvimento socioambiental e econômico do Brasil”. Diretores do IBRAM também se reuniram com o GT de Transição de Minas e Energia para “sugerir políticas públicas para a mineração do Brasil”.

“É um setor fundamental para o país, para o desenvolvimento nacional, para a geração de emprego e renda e para combater as tantas desigualdades latentes em nossa sociedade”, disse Silveira após a indicação para o MME. No discurso de posse, reforçou que “o Brasil se destaca como uma das principais fronteiras para o investimento global em mineração”, que é preciso inteligência para que isso se reverta em “desenvolvimento” e “bem-estar”.

Silveira e Rodrigo Pacheco em reunião

Segundo o IPEA, a mineração representa apenas 1,2% do PIB, considerando toda a IEM (Indústria Extrativa Mineral) e a siderurgia 1,9%, considerando toda a ITM (Indústria da Transformação Mineral), sendo no total 3,1%.

Para manter esse gigantesco parque industrial funcionando de ponta a ponta da cadeia, no entanto, o setor minero-siderúrgico consome 11% da eletricidade produzida no Brasil. Mineradoras e siderúrgicas também são responsáveis por emitir cerca de 5% dos gases de efeito estufa/ano.

O Observatório da Mineração quer conhecer melhor o perfil da nossa audiência. Por favor, responda esse brevíssimo questionário, o que deve levar menos de 5 minutos. Obrigado.

Agro e advocacia são próximos de Silveira. Patrimônio do ministro dobrou em 8 anos.

As doações para a campanha fracassada a senador de Alexandre Silveira em 2022 registram também grandes doares do agronegócio e de escritórios de advocacia. Rodrigo Pacheco atuou como advogado criminalista em MG até assumir como presidente do Senado.

Outro doador relevante de Silveira em 2022 foi Rubens Ometto, que doou R$ 69 mil, presidente do Grupo Cosan, um dos maiores bilionários do Brasil que controla empresas relevantes para toda a cadeia da mineração, metalurgia, siderurgia e do agro, como Raízen, Rumo Logística, Compass Gás & Energia, Comgás e Radar.

Antes de chegar ao Senado e agora ao MME, Alexandre Silveira foi deputado federal por dois mandatos. Entre as declarações de bens entregues ao TSE em 2014 e em 2022, 8 anos, o patrimônio de Silveira dobrou, passando de R$ 4 milhões para R$ 8,5 milhões.

No passado, Alexandre Silveira atuou como advogado e delegado de polícia, secretário do governo tucano em MG e foi indicado para o cargo de diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) por Lula em 2004, permanecendo até 2006.

Compartilhe

Apoie o Observatório

Precisamos do apoio dos nossos leitores para continuar atuando de forma independente na denúncia e fiscalização do neoextrativismo, que ameaça comprometer uma transição energética justa e sustentável no Brasil.

Você pode contribuir de duas maneiras. A primeira, e mais eficaz, é por meio de uma assinatura recorrente no PayPal.

Com ela, você apoia mensalmente o trabalho do Observatório da Mineração, com um valor fixo debitado automaticamente no seu cartão de crédito ou débito.

Também aceitamos contribuições pontuais, no valor que preferir, via PIX. Basta enviar para o e-mail: apoie@observatoriodamineracao.com.br
(conta da Associação Reverbera).

Siga o Observatório nas redes sociais e compartilhe o conteúdo com seus amigos!

E buscamos novos parceiros e financiadores.
Desde que alinhados com o nosso propósito, histórico e perfil.
Leia mais sobre o impacto alcançado até hoje pelo Observatório, as aulas que ministramos e entre em contato.

Matérias relacionadas

Quarta-feira, 21 de maio de 2025. Por volta das 22 horas deste dia, era encerrada a sessão do Senado Federal...

A convite da Brot für die Welt e da Fundação Heinrich Böll, instituições alemãs que são destaque nas discussões sobre...

O Observatório da Mineração, centro de jornalismo e think tank que se tornou a maior referência sobre mineração e transição...

Apoie o Observatório da Mineração