A privatização da Eletrobras, forçada a todo custo pela cartilha ultraliberal seguida pelo governo Bolsonaro, se não faz sentido do ponto de vista econômico, político e de soberania nacional, faz ainda menos sentido para o bolso do consumidor e para o clima do Brasil e do planeta.
O Congresso usou a privatização da Eletrobras imposta por Paulo Guedes e cia para empurrar uma conta para lá de salgada: R$ 52 bilhões para usinas termelétricas considerando apenas a operação delas até 2036.
E a conta pode ser paga mesmo que a Eletrobras não seja vendida em 2022. Em bom português, todos nós vamos pagar a farra dos barões das térmicas por mais de uma década enquanto o Brasil se afunda ainda mais na crise climática.
Método mais caro e poluente de geração de energia, as usinas termelétricas queimam carvão, gás natural ou óleo combustível para o resultado final. No processo, aumentam exponencialmente a emissão de gases poluentes e tem a cadeia de produção mais suja do mercado.
O dado de R$ 52 bilhões veio da própria Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia (MME).
A conta, porém, não inclui o custo de construção das usinas termelétricas, linhas de transmissão e dos gasodutos nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste com previsão de contratação de 8 mil megawatts (MW) a gás e operação a partir de 2026.
O peso no bolso do consumidor, portanto, será ainda maior que os vultosos R$ 52 bilhões. A conta de luz ficará mais cara e não por pouco.
Ao contrário da previsão inicial incluída na MP de privatização da Eletrobrás, que dizia que as térmicas só seriam construídas caso o preço final fosse similar ao praticado em 2019, em valores atualizados pela inflação, agora um decreto estabeleceu uma vinculação com a cotação do petróleo, do gás e do dólar.
Isso deve elevar o valor da tarifa teto de R$ 350 MWh para algo entre R$ 500 MWh e R$ 650 MWh. Esse novo teto pode gerar um custo adicional nas tarifas residenciais em 10%.
A proposta que fixou a construção de térmicas em locais pré-determinados veio do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA).
A privatização da Eletrobras está sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU), que deve retomar o julgamento em 18 de maio. Esta é a última etapa do processo. Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e cia pretendem arrecadar R$ 67 bilhões com a venda da estatal estratégica.
O custo total da contratação da energia gerada pelas térmicas, portanto, estimada em valor mínimo inicial de R$ 52 bilhões sem considerar a construção das usinas, as linhas de transmissão e os gasodutos sairá bem mais caro que o valor da própria venda da Eletrobrás.
E pode ser ainda pior: o preço final, pendente de revisão e que pode mudar até a venda efetiva, é cerca de 15 vezes menor que o de semelhantes estrangeiras, segundo o Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico).
Pelas contas da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel) e da Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel), a empresa vale, no mínimo, R$ 400 bilhões. Um prejuízo total de R$ 333 bilhões para agradar aos amigos do mercado.
Em qualquer país normal, um escândalo.
CURTAS: análises críticas breves sobre temas quentes da mineração, energia e setor extrativo.