Crime da Vale mostra a subserviência do Executivo estadual, do Executivo federal e da imprensa brasileira

Mesmo para alguém que é dos EUA, um dos países de capitalismo mais desregulado do mundo, e de New Orleans, a cidade que sofreu o pior crime ambiental da história do país, é inacreditável a subserviência do Executivo estadual, do Executivo federal e da imprensa brasileiras aos barões da Vale e da BHP.

Aconteceu no Brasil um dos piores, senão o pior, crime ambiental da história do país. Sessenta e dois milhões de metros cúbicos de rejeitos foram lançados sobre um distrito de Mariana e escorreram por centenas de quilômetros, matando gente e animais, destruindo flora, contaminando sabe-se lá por quantos anos ou décadas o Rio Doce, desabrigando famílias, estragando plantações e até agora, com a exceção do Ministério Público, que tomou atitudes, o poder público tem sido de uma subserviência impressionante. O governador do estado, cuja campanha foi financiada pela Vale, deu uma entrevista NA SEDE da empresa responsável pelo desastre. Não satisfeito com isso, encarregou-se da assessoria de imprensa da empresa, dizendo que ela está “fazendo o que tem ser feito”.

A empresa lançou uma nota dizendo que os rejeitos “não fazem mal à saúde” e a imprensa noticiou isso como se fosse informação, e não alegação, enquanto especialistas demonstraram (http://bit.ly/1HDDb8V) a composição da coisa: cádmio, alumínio, ferro, manganês, cromo, chumbo e silica. Tentaram emplacar a versão do abalo sísmico, e especialistas mostraram (http://bit.ly/1HDDfpj) que os abalos foram de 2,0 a 2,6 na escala Richter o que, nas palavras do cientista Alexandre Araújo Costa, significa o seguinte: “se somente tremores de escala 5 ou mais podem causar alguma avaria estrutural, esses tremeliques de 2 a 2.6 são de 1000 a 250 vezes menores do que o mínimo. Misturar essa informação com o rompimento da barragem é confiar na ignorância completa sobre o assunto”.

Como afirmou o jurista Paulo Abrão, “no direito ambiental vigora o principio da precaução. No desastre de Mariana, a priori, a responsável é a mineradora. Até que se prove alguma causa externa ou fator imprevisível, ela é que tinha o dever de adotar todas as medidas garantidoras para evitar o que ocorreu […] Assim sendo, a mineradora não é, a priori, uma vítima da situação, como apressadamente uma autoridade local chegou a expressar. Ela é na verdade a suspeita número 1 de um crime”.

Enquanto isso, os Executivos federal e estadual continuam a tratar a empresa como se ela fosse vítima e a grande imprensa não cumpre o seu papel de fiscalizar. Fica a pergunta do Vinicius Duarte: se isso acontecesse na Austrália, a casa da BHP, as autoridades de lá estariam deixando barato assim?

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Pronunciamento de Obama em cadeia nacional sobre a responsabilidade da BP no vazamento de petróleo no Golfo do México: “We will make BP pay for the damage their company has caused” (http://bit.ly/1WOQFFH).

E pagaram. 4 bilhões de dólares, depois de serem indiciados por crime ambiental e homicídios culposos em ação movida pelo Executivo (http://1.usa.gov/1WOQXwg).

Quantidade de petróleo vazado pela BP na costa da Louisiana: 780.000 m³

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Pronunciamento do governador Pimentel sobre o crime ambiental de Mariana, de responsabilidade da Vale e da BHP, feito na sede da Samarco: “a empresa está fazendo o que tem que ser feito”.

Pronunciamento de Dilma Rousseff sobre as responsabilidades da Vale e da BHP no crime ambiental de Mariana: zero.

Quantidade de lama tóxica vazada pela Samarco em Mariana e Rio Doce acima, até o mar: 62.000.000 m³.

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Pergunta: alguém imagina Dilma ou Pimentel em cadeia de TV dizendo “Nós faremos a Vale e a BHP pagar pelo dano que suas empresas causaram!”?

Não né? Pois é.


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