Dono do Banco Master vendeu participação na mineradora Itaminas, de Brumadinho, pouco antes de fraude multibilionária vir à tona

ANÁLISE

Mineiro com trânsito livre no alto escalão de Brasília, incluindo ministros do STF, e com negócios considerados de sucesso em Minas Gerais, como os 20% de participação no clube Atlético Mineiro, Daniel Vorcaro não poderia deixar de ter um braço também na mineração.

Menos de 15 dias atrás o empresário controlador do Banco Master, agora preso e investigado por fraude suspeita de causar prejuízo de dezenas de bilhões de reais, vendeu sua participação na mineradora Itaminas por quase R$ 700 milhões.

Vorcaro havia comprado essa fatia da Itaminas no início de 2024, cerca de 50% da empresa, noticia o jornal Valor Econômico, e vendeu a sua participação para os outros sócios atuais, as famílias Gontijo e Géo.

As notórias “dificuldades” do Master já eram apontadas, assim como a “tentativa” de diminuir o eventual prejuízo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mecanismo agora acionado para reembolsar nada menos que R$ 41 bilhões de parte dos investidores lesados pelos títulos fantasmas ou fraudulentos com promessa de lucros irreais feitas pelo Master.

A Itaminas é uma empresa bem conhecida nos círculos de Belo Horizonte, Brumadinho e MG. A mineradora, envolvida em inúmeros episódios controversos, foi fundada e administrada por décadas por Bernardo de Mello Paz, sócio, diretor ou representante de dezenas de empresas nas áreas de mineração, siderurgia e energia.

Foi com a fortuna desses setores que Paz fundou o Museu do Inhotim, em Brumadinho, apresentado como o maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo, que se transformou em destino turístico procurado por pessoas do mundo todo.

Matéria especial publicada por Alex Cuadros na Bloomberg em junho de 2018 mostrou que o dinheiro de Paz usado para construir e transformar Inhotim em ponto desejado por turistas foi amealhado incluindo crimes ambientais, lavagem de dinheiro, evasão fiscal, trabalho infantil, grilagem e trabalho análogo à escravidão. A longa lista de crimes que envolvem Paz e suas empresas foi completada em outro texto publicado por Cuadros no Intercept.

Itaminas/Divulgação

Condenado em 2017 a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro, Bernardo Paz fez acordo em 2018 com o estado de Minas Gerais para pagar uma dívida estimada em quase R$ 500 milhões que foi reduzida para cerca de R$ 111 milhões com obras de arte de Inhotim que, no entanto, permaneceram sob “comodato” nas galerias do museu. Um negócio e tanto questionado na justiça. A Itaminas retomou suas atividades em 2020 a partir da compra de minério de ferro comprados de uma subsidiária da Vale.

Recentemente, em agosto deste ano, a Itaminas passou a explorar diretamente a mina de Jangada, vizinha à área da Vale que resultou no rompimento da barragem em Brumadinho que matou 270 pessoas em janeiro de 2019.

O acordo de 15 anos entre Vale e Itaminas foi aprovado pelo Cade, pela Agência Nacional de Mineração e recebeu aval da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), em julho deste ano. Fernando Baliani, diretor da Feam à época, assinou o ato. Em setembro, a Feam e Baliani foram alvos da Operação Rejeito, que investiga um gigantesco esquema de corrupção no setor mineral em Minas Gerais. Baliani acabou exonerado do cargo a pedido da justiça.

Edson Resende, nomeado novo presidente da FEAM pelo governo Romeu Zema e ex-promotor do MPMG, prestou serviços para a Itaminas, mostrou a Repórter Brasil.

Sem a participação societária de Daniel Vorcaro e agora controlada integralmente pelos grupos AVG e Agéo, a Itaminas tem planos ambiciosos: expansão para produzir até 10 milhões de toneladas de minério de ferro já no ano que vem e expectativa de chegar a 15 milhões de toneladas em 2030 e contrato para exportar diretamente para a Ásia e o Oriente Médio.

Já Vorcaro, que teve o início de sua ascensão ligada à Igreja Batista da Lagoinha, está enrolado com a justiça e deve enfrentar uma longa batalha nos tribunais. Os R$ 300 milhões de Vorcaro que resultaram na participação de 20% no clube Atlético Mineiro, por exemplo, por meio do fundo Galo Forte, está sendo investigado por uma suposta ligação do fundo com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).


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